ATA DA DÉCIMA QUARTA
SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEXTA
LEGISLATURA, EM 07-3-2013.
Aos sete dias do mês de
março do ano de dois mil e treze, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do
Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e
quinze minutos, foi realizada a segunda chamada, respondida pelos vereadores
Alceu Brasinha, Any Ortiz, Cassio Trogildo, Delegado Cleiton, Fernanda
Melchionna, Guilherme Socias Villela, João Carlos Nedel, João Derly, Luiza
Neves, Márcio Bins Ely, Mario Fraga, Nereu D'Avila, Paulinho Motorista, Paulo
Brum, Professor Garcia, Séfora Mota e Tarciso Flecha Negra. Constatada a
existência de quórum, o senhor Presidente declarou abertos os trabalhos. Ainda,
durante a Sessão, compareceram os vereadores Airto Ferronato, Alberto Kopittke,
Dr. Thiago, Elizandro Sabino, Engº Comassetto, Idenir Cecchim, Jussara Cony,
Lourdes Sprenger, Marcelo Sgarbossa, Mario Manfro, Mauro Pinheiro, Mônica Leal,
Pedro Ruas, Reginaldo Pujol, Rodrigo Maroni e Valter Nagelstein. À MESA, foi
encaminhado o Projeto de Lei do Legislativo nº 002/13 (Processo nº 0019/13), de
autoria da vereadora Jussara Cony. Do EXPEDIENTE, constaram: Ofícios nos
003/13, do deputado estadual José Sperotto, da Assembleia Legislativa do Estado
do Rio Grande do Sul; e 354/13, da senhora Lilian dos Santos Rahal, Secretária
Adjunta da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Durante a Sessão,
deixaram de ser votadas as Atas da Primeira, Segunda, Terceira, Quarta, Quinta,
Sexta, Sétima, Oitava e Nona Sessões Ordinárias. A seguir, o senhor Presidente
concedeu a palavra, em TRIBUNA POPULAR, à senhora Silvana Brazeiro Conti,
Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre, que
discorreu sobre políticas públicas para as mulheres, participação política e
luta pelo fim da violência contra as mulheres. Em continuidade, nos termos do
artigo 206 do Regimento, os vereadores Fernanda Melchionna, Marcelo Sgarbossa,
Delegado Cleiton, Lourdes Sprenger, Luiza Neves e Rodrigo Maroni
manifestaram-se acerca do assunto tratado durante a Tribuna Popular. Em
COMUNICAÇÃO DE LÍDER, pronunciou-se o vereador João Derly. Às quatorze
horas e cinquenta e seis minutos, os trabalhos foram regimentalmente suspensos,
sendo retomados às quatorze horas e cinquenta e sete minutos. Após, foi apregoado o Memorando nº
031/13, de autoria da vereadora Sofia Cavedon, deferido pelo senhor Presidente,
solicitando autorização para representar externamente este Legislativo, hoje,
no debate “A mulher e o poder”, no Plenarinho da Câmara Municipal de Rio Grande
– RS. Em continuidade, foi iniciado o período de COMUNICAÇÕES, o qual teve como
mestre de cerimônia o senhor José Luís Espíndola Lopes, hoje destinado, nos
termos do artigo 180, § 4º, do Regimento, a tratar de políticas públicas para
mulheres e a reforma política. Compuseram a MESA: o vereador Dr. Thiago e as
vereadoras Any Ortiz, Fernanda Melchionna, Jussara Cony, Lourdes Sprenger, Luiza
Neves, Mônica Leal e
Séfora Mota, que presidiram os trabalhos; as
senhoras Waleska Vasconcelos, Secretária Municipal Adjunta da Mulher; Elis
Regina Gomes de Vargas, representando a União de Negros pela
Igualdade – UNEGRO/RS –; Ana
Naiara Malavolta, representando a Liga Brasileira de Lésbicas; Cláudia
Prates, representando a Marcha Mundial das Mulheres; Lea Epping, representando o Coletivo
Feminino Plural; Fabiane Dutra, representando a União Brasileira de Mulheres;
Sílvia Duarte, representando a Força Sindical; Eremi Melo, representando a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB –; Anabel Lorenzi, representando a
Secretaria Estadual de Mulheres do PSB do Rio Grande do Sul; Bruna Rodrigues,
Presidenta da União das Associações de Moradores de Porto Alegre – UAMPA –; e
Silvana Conti, Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher –
COMDIM/POA. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, pronunciou-se o vereador Tarciso Flecha
Negra. Após, foi concedida a palavra, nos termos do artigo 180, § 4º, incisos I
e II, às senhoras Waleska Vasconcelos, Elis Regina Gomes de Vargas, Ana Naiara
Malavolta, Lea Epping, Fabiane Dutra, Sílvia Duarte, Eremi Melo, Anabel
Lorenzi, Bruna Rodrigues e Silvana Conti. Em COMUNICAÇÕES, nos termos do artigo
180, § 4º, inciso III, do Regimento, pronunciaram-se os vereadores Séfora Mota,
Nereu D’Avila, Fernanda Melchionna, Lourdes Sprenger, Luiza Neves, Jussara
Cony, Any Ortiz, Alberto Kopittke, Engº Comassetto, Airto Ferronato, Reginaldo
Pujol e Professor Garcia. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, pronunciou-se o vereador
Nereu D’Avila e as vereadoras Fernanda Melchionna, Mônica Leal e Jussara Cony.
Durante a Sessão, foram registradas as presenças, neste Plenário, dos senhores Carlos Fernando Niedersberg, Presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental
Henrique Luiz Roessler – FEPAM –; Adalberto
Frasson, Presidente Municipal do PCdoB; Luciano Mancantônio, representando a Prefeitura
Municipal de Porto Alegre; Fabrício Loguércio, representando o senhor Hélio
Corbelini, Secretário Estadual do Meio Ambiente; Jefferson Henrique Pereira,
Assessor Parlamentar do deputado estadual Raul Carrion; José Olmiro Oliveira
Peres, Secretário Adjunto da Secretaria
Municipal da Produção, Indústria e Comércio; Roberto Jakubaszko, Conselheiro
da 1ª Região de Planejamento do Conselho
Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental; Karina D’Ávila, Secretária
Adjunta dos Povos Indígenas e Direitos Específicos; Albano Assis, Secretário
Adjunto da Livre Orientação Sexual; Maristela Maffei, ex-vereadora deste
Legislativo; Ivandro Morbach, Chefe de Gabinete da deputada federal
Manuela d’Ávila; Fabíola Pavani, Vice-Presidente da União Municipal de Estudantes Secundários
de Porto Alegre – UMESPA –; Ana Carolina da Silva, Diretora da União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas – UBES –; e Marcos Puchalski, Presidente da União da Juventude Socialista – UJS. Às dezessete horas e quarenta e sete
minutos, constatada a inexistência de quórum, o senhor Presidente declarou
encerrados os
trabalhos, convocando os senhores vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos vereadores Dr. Thiago e João
Carlos Nedel e pelas vereadoras Lourdes Sprenger, Mônica Leal, Fernanda
Melchionna, Luiza Neves, Jussara Cony, Séfora Mota e Any Ortiz e secretariados
pelos vereadores Professor Garcia e João Carlos Nedel. Do que foi lavrada a
presente Ata, que, após distribuída e aprovada, será assinada pelos senhores 1º
Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Passamos à
A Sra.
Silvana Brazeiro Conti, Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos
da Mulher de Porto Alegre - RS, está com a palavra,
pelo tempo regimental de 10 minutos, para tratar de assunto relativo a políticas públicas para as mulheres, participação política
e luta pelo fim da violência contra as mulheres.
A SRA. SILVANA BRAZEIRO CONTI: Eu gostaria de fazer uma saudação a todos os presentes. Sou
a Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre, e
nós pedimos esta Tribuna Popular para fazer o debate com esta Casa e com o
Executivo Municipal sobre as políticas públicas para as mulheres e sobre a
questão da reforma política.
Antes de
mais nada, eu gostaria de iniciar a minha fala lembrando que o Dia
Internacional da Mulher é um dia de luta para nós, que somos mulheres
feministas. E eu gostaria de lembrar, com uma frase, dados que são muito graves
e muito tristes para nós, que somos mulheres: a cada quinze segundos, uma
mulher é agredida no Brasil; sete, em cada dez mulheres, serão vítimas de
violência ao longo da vida.
O Dia
Internacional da Mulher não é um dia de flores, é um dia de luta. Quando a
gente coloca isso, eu acho superimportante que todos que estão aqui, neste
momento, compreendam que não é que nós não gostemos de flores, ao contrário. Só
que este Dia é um dia de luta, é um dia de reflexão, é um dia de a gente somar
forças para que nenhuma mulher mais sofra qualquer tipo de violência.
Eu
gostaria, também, de fazer uma saudação a todas as mulheres, de todos os
tempos, que vieram antes de nós: as bruxas, as sufragistas, as que abriram os caminhos para que hoje tenhamos a maior Bancada feminina desta Casa.
Eu gostaria de fazer uma saudação especial a Safho, de Lesbos, que, em 640
a.C., publicizou, através de poemas, o seu amor por mulheres; Aqualtune, uma
grande guerreira negra, que é avó do grande guerreiro Zumbi dos Palmares; Nísia
Floresta, uma feminista além do seu tempo; Julieta Battistioli, nossa primeira
Vereadora. Quero fazer uma saudação também a todas as mulheres aqui presentes.
Saudando a Ver.ª Any Ortiz e a Ver.ª Jussara Cony – a mais jovem e a mais
experiente –, saúdo todos e todas as presentes.
Gostaria de ocupar
este espaço da Tribuna para colocar a importância que o nosso Conselho tem para
esta Cidade. Ele foi criado em 1995, e é muito importante que esta Casa e o
Executivo compreendam que ele é um órgão de caráter permanente, propositor,
consultor, fiscalizador, normativo e deliberativo no que se refere às matérias
pertinentes aos direitos das mulheres.
Eu gostaria também de
aproveitar este momento para colocar qual a composição da nossa gestão
2012/2014. Eu sou a Presidenta e, lá no Comdim, eu represento a União
Brasileira de Mulheres; a Vice-Presidenta é a Renata Teixeira Jardim, que
representa o Coletivo Feminino Plural; a 2ª Vice-Presidenta é a Tânia Coelho,
da Secretaria Municipal da Saúde; a 1ª Secretária é a Maria Luisa Loose, do
Movimento de Mulheres Socialistas; a 2ª Secretária é a Izabel Franco, da
Secretaria Municipal de Cultura; a 1ª Tesoureira é a Silvana da Silva, da
Federação dos Trabalhadores do Comércio, e a 2ª Tesoureira é a Esdra Suzana
Souza Ferreira, da antiga Coordenadoria Municipal da Mulher. Achei importante
colocar a nossa composição porque é um espaço de composição política. É
extremamente estratégico que nós, mulheres de Porto Alegre, estejamos unidas,
independente da força política da qual façamos parte porque, sem a nossa
unidade, como mulheres, não conseguiríamos dar conta desse grande desafio que é
acabar com qualquer tipo de violência contra nós.
Outra questão
importante que eu gostaria de salientar é que a nossa Cidade é referência em
relação aos movimentos de mulheres. Já aconteceram três Conferências Nacionais
de Mulheres, e, aqui em Porto Alegre, nós já fizemos cinco conferências. O que
significa isso? Que o Movimento de Mulheres de Porto Alegre conhece as pautas,
é articulado, tem história e está completamente à disposição; o nosso Conselho
está aberto para fazer o diálogo com o Executivo Municipal. É importante
salientar isso porque, em fevereiro, foi criada uma Secretaria Adjunta de
Mulheres, e nós procuramos a Secretaria para fazer uma articulação política,
para compor as políticas públicas para a nossa Cidade. Depois, num outro
momento, eu preciso tratar aqui do absurdo que aconteceu ontem com relação à
campanha, mas vou tratar disso mais adiante.
Uma outra questão
importante também é que, dentro das nossas conferências municipais, nós temos
pautas muito caras para nós, que são extremamente estratégicas. Mas, aqui,
neste espaço, eu gostaria de tratar só de uma: o cumprimento do Pacto de
Enfrentamento à Violência contra a Mulher, o qual prevê a implementação da Lei
Maria da Penha no tocante à criação de uma rede integrada de atendimento às
mulheres em situação de violência, composta de serviços especializados,
delegacia da mulher, casa-abrigo, núcleo especializado, núcleo da Defensoria
Pública, centro de referência da mulher vítima de violência, serviço de
atendimento à mulher em situação de violência sexual e abortamento previsto em
lei.
Coloco aqui desta
tribuna esta pauta porque esta é uma das grandes pautas do Movimento de
Mulheres. Nós temos pautas construídas, mas, em princípio, acreditamos que o
Governo Municipal não reconhece as nossas pautas, ele desconhece as nossas
pautas. No momento em que coloca uma campanha absurda, que eu gostaria de
colocar brevemente aqui: “Só uma mulher sabe...”, colocando-nos numa situação
completamente desqualificada, negando a construção do Movimento de Mulheres,
nos colocando como aquelas Barbies, patricinhas, que só pensam em unhas, que só
pensam na sua TPM, que só pensam no seu chocolate, etc. Eu gostaria de afirmar
que nós somos muito mais do que isso; somos mulheres lutadoras, guerreiras,
estamos à frente de vários movimentos, estamos à frente nas comunidades,
estamos à frente em vários espaços de poder e queremos muito mais do que isso.
Gostaria de colocar o meu, o nosso repúdio a essa campanha. Ela foi retirada do
ar, mas ela aconteceu e aconteceu dentro de uma concepção política. (Palmas.)
Existe uma concepção política que a Prefeitura Municipal de Porto Alegre
colocou à mostra ontem, mesmo que tenha sido por pouco tempo. E não adianta
pedir desculpas e dizer que aquela campanha era alguma coisa descontraída e
engraçada. Um dia de luta, o dia 8 de Março, é um dia muito especial para nós e
muito caro. Não é um dia de fazer graça, não é um dia de achar uma forma de nos
tratar como nós estamos cansadas de ser tratadas e não queremos ser tratadas.
Nós somos mulheres guerreiras, a prova é que temos uma Presidenta do Brasil,
temos oito mulheres nesta Casa, temos várias dirigentes, estamos em todos os
lugares, e isso não pode acontecer. É importante que a gente reflita sobre
isso, pois, neste ano, aconteceram aqui nesta Casa muitas iniciativas
parlamentares que foram excelentes, foram muito boas; iniciativas como a Frente
Parlamentar pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Eu gostaria de colocar,
Ver.ª Luiza Neves, que nós, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher,
queremos nos somar a essa Frente, queremos construir e gostaríamos que ela
acontecesse como um grupo de trabalho de que o Executivo fizesse parte, de que
os movimentos de mulheres fizessem parte, para que se consiga dar rumo às
políticas públicas para as mulheres de Porto Alegre. Neste momento, em
princípio, do jeito em que foi colocada aquela campanha, as políticas públicas
para as mulheres estão sendo colocadas num patamar rebaixado, e não é nossa
intenção; nós queremos construir políticas que aconteçam, de fato, na vida das
mulheres.
Outra questão
importante que aconteceu nesta Casa: a questão de tratar a Saúde e a Educação
como temas extremamente estratégicos para acabar com a violência contra as
mulheres. No momento em que foi colocada uma legislação que inclui, nos
currículos escolares, a Lei Maria da Penha, desde a Educação Infantil, em todos
os níveis e modalidades de ensino, o que significa isso? Que nós estamos
preocupados e preocupadas com as crianças desde a Educação Infantil. Se a gente
acredita que quer transformar esta sociedade numa sociedade igual para que as
pessoas tenham direitos iguais e não sofram opressão de classe, de raça e
etnia, de orientação sexual ou qualquer outra, é preciso iniciar pela Educação.
Gostaria de saudar a
iniciativa do Ver. João Derly e da Ver.ª Jussara Cony, que trataram desta pauta
brilhantemente, porque é estratégico e fundamental para nós, do Movimento das
Mulheres.
Eu acho que esta Casa tem muito que ensinar para o
Governo Municipal, já que a gente está tendo tantas e tantas iniciativas muito
boas, que caminham juntas com o Movimento. Eu acho que a gente precisa discutir
e qualificar como serão os rumos das políticas para as mulheres aqui em Porto
Alegre.
Outra questão que eu gostaria de enfatizar é sobre
duas legislações que foram colocadas, inclusive uma delas pelo Prefeito
Fortunati. Ele assinou, dia 21 de maio de 2012 – espero que não tenha sido só
em função da proximidade da campanha eleitoral –, a legislação que institui o
Sistema de Diagnóstico da Situação da Mulher e o Índice de Qualidade de Vida da
Mulher no Município de Porto Alegre. (Lê.): “Determina que o Executivo
Municipal organize prestação de contas públicas da evolução dos indicadores e
dos subindicadores relativos à mulher no Município de Porto Alegre e dá outras
providências”. Esta legislação, aplicada na vida, é extremamente importante, no
momento em que a gente consegue instituir um Sistema de Diagnóstico da Situação
das Mulheres. E quando eu falo isso é de todas as mulheres: as mulheres que
estão nas periferias da Cidade, as mulheres trabalhadoras, as mulheres
estudantes, enfim essa gama de diversidade que nós somos.
Então, foi uma proposta feita e assinada pelo
Prefeito Fortunati, que com certeza nós, do Conselho Municipal dos Direitos das
Mulheres, vamos monitorar e vamos cobrar. É estratégico, para se ter políticas
públicas, ter esses índices e ter diagnóstico de como as mulheres estão
colocadas na cidade de Porto Alegre. Isso é uma questão extremamente
importante.
Gostaria de encerrar, colocando para todas as
pessoas que estão aqui, que a luta das mulheres é completamente estratégica
para que a gente tenha uma sociedade essencialmente democrática. Não teremos
uma sociedade avançada, um projeto nacional de desenvolvimento avançado, se nós
não pensarmos na emancipação das mulheres. Quando a gente coloca emancipação
das mulheres, é a emancipação das mulheres junto com os homens. Existem algumas
pessoas que confundem um pouco o que é ser feminista com ser feminina.
Feminista é acreditar que o mundo pode existir para homens e para mulheres com
igualdade de oportunidades e de direitos. E nós somos ou não femininas e não
deixamos de ser mulheres. Cada uma de nós é o que é. Nós estamos em todos os
lugares e merecemos respeito, merecemos ter uma vida digna e merecemos
políticas públicas que realmente façam com que a nossa vida seja melhor. A
gente está aqui neste mundo para ter igualdade de oportunidades, de direitos, e
para ajudar a construir esta nação que é o Brasil. Já temos uma Presidenta, já
temos muitas mulheres nos espaços de poder e queremos ter isso cada vez mais,
mais e mais. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Convido a Sra. Silvana Brazeiro Conti para compor
a Mesa.
A Ver.ª Fernanda Melchionna está com a palavra, nos
termos do art. 206 do Regimento.
A SRA.
FERNANDA MELCHIONNA: Quero cumprimentar a Silvana, as mulheres
guerreiras, trabalhadoras, lutadoras dos movimentos sociais e populares, os
homens apoiadores da nossa luta. Há três pontos que eu acho que são
fundamentais do que foi trazido pelo Conselho, que trouxe vários elementos
importantíssimos hoje para o debate nesta Câmara, e, sobretudo, a busca por
políticas públicas.
Primeiro, a gravidade da situação da violência contra
a mulher em todo o Brasil, certamente, e no Município de Porto Alegre. Nós
temos um aumento de 118% nos últimos dados e pesquisas que foram feitas na
nossa Cidade. A nossa Emenda, que criava recursos para a construção de um
centro de referência a mulheres vítimas da violência com todos os serviços
integrados, em Emenda do Ver. Pedro Ruas, lamentavelmente foi vetada pelo
Executivo Municipal. E nós precisamos batalhar para que de fato as políticas
públicas saiam do papel.
O Projeto da Ver.ª Jussara Cony e do Ver. João
Derly já tem o nosso apoio, de antemão; discutir isso nas escolas é
fundamental, mas é necessário construir uma rede que passe pela
descentralização das Delegacias da Mulher, esse é um compromisso que o Governo
do Estado deveria ter, e esse espaço para as mulheres vítimas da violência.
Em segundo, há a questão desse sistema integrado da
pesquisa dos dados qualitativos, e certamente tem que ser uma pesquisa e uma
cobrança da Câmara Municipal frente ao Executivo Municipal. E, mais uma vez,
podem contar com a Bancada do PSOL e com a Comissão de Direitos Humanos, da
qual eu sou Presidente neste ano.
Em terceiro, quero dizer dos símbolos, dos
estereótipos, das campanhas retrógradas, machistas e sexistas. Quero lamentar
profundamente a campanha que a Prefeitura divulgou no dia de ontem e tirou do
ar, graças às redes sociais e aos movimentos populares. É simplesmente uma
vergonha que nos tratem apenas como unhas quebradas, bolsas e chocolates; cada
uma de nós faz o que quer, veste-se como quer, pinta as unhas ou não pinta...
Mas nós temos que honrar o dia 8 de março como um dia de luta, de busca por
igualdade e, sobretudo, de combate ao machismo, que se expressa em muitas
coisas, inclusive nessas campanhas retrógradas. Parabéns pela luta. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Obrigado, Ver.ª Fernanda Melchionna.
O Ver. Marcelo Sgarbossa está com a palavra, nos
termos do art. 206 do Regimento.
O SR. MARCELO
SGARBOSSA: Boa-tarde a todos e a todas; boa-tarde, Silvana, colegas do Conselho,
pessoas que nos assistem. É importante a gente ter em mente que a questão dos
direitos da mulher é uma questão de democracia; não é como se costuma fazer,
colocar cada questão num gueto. Costuma-se geralmente dizer as mulheres, os
negros, os deficientes – nós estamos falando de uma questão chave, que é a
democracia; essa é a primeira coisa. E o homem é muito hábil – o homem e o ser
humano em geral – em conseguir parecer que está fazendo, e não fazer. Isso é
muito comum nas tarefas diárias: o homem começou a dizer que lava a louça, mas
lava uma vez por semana. Estou dizendo isso porque o ser humano tem muito um
escapismo automático.
Nós, aqui na Câmara, no dia 6 de fevereiro,
protocolamos um Projeto de Lei que cria o Fundo Municipal dos Direitos da
Mulher e dá outras providências. A exemplo de Belo Horizonte e de outras
cidades, a gente quer que realmente se institua em Porto Alegre algo concreto,
não apenas no discurso, e a gente sabe que, quando a gente trata de políticas
públicas, é importante falar de orçamento. Não há nada que possa ser realizado
com políticas públicas que não tenha um mínimo de orçamento, nem que seja para
fiscalização ou qualquer coisa desse gênero. Portanto, protocolamos este
Projeto de Lei, que pode ser aperfeiçoado, pode ser mudado, está aí para
discussão, começou a tramitar no dia 6 de fevereiro. Ele delega ao Conselho
Municipal dos Direitos da Mulher justamente a aprovação desse orçamento. Então,
percebam que é uma forma de potencializar o controle social e atribuir ao
Conselho a tarefa prioritária de definição de prioridades na execução dessa
política pública e com esses recursos orçamentários.
Então, é para começar o debate, contamos com o
apoio e sugestões de alterações deste Projeto. Foi uma forma de darmos início à
discussão. Obrigado.
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Obrigado, Ver. Marcelo Sgarbossa.
O Ver. Delegado Cleiton está com a palavra, nos
termos do art. 206 do Regimento.
O SR. DELEGADO
CLEITON: Professora Silvana, companheiras do Conselho, em especial, minha colega
de colégio e de infância, Walesca, quero dizer que o PDT se soma a essa luta
por políticas públicas em relação às mulheres. Inclusive, estamos trazendo para
a Tribuna Popular, no mês que vem, a Delegada Nadine, que é responsável pela
Delegacia das Mulheres, delegacia que, amanhã, fará 25 anos – só perde, no
Brasil, senão me engano, para São Paulo, que tem 27 anos dessa criação –, e
também para falar da Lei Maria da Penha. Essa Lei e essa atuação da Polícia
Civil, essa atuação da Delegacia da Mulher tem feito com que, ao olharmos os
índices, constatemos o aumento de ocorrências de violência contra a mulher.
Junto a isso, há o aumento de pessoas que, agora, têm um lugar para recorrer e
buscar os seus direitos, que é a Delegacia de Polícia das Mulheres.
Então, eu parabenizo todas as mulheres, em especial
as mulheres negras que, além do machismo, sofrem com o racismo. Então, um
abraço especial a todas as mulheres negras. Obrigado.
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Obrigado, Ver. Delegado Cleiton.
A Ver.ª Lourdes Sprenger está com a palavra, nos
termos do art. 206 do Regimento.
A SRA. LOURDES
SPRENGER: Quero cumprimentar a Silvana pela sua luta e de suas companheiras, pelo
fim da violência contra a mulher. Isso é uma preocupação tanto das militantes,
quanto não militantes, pois, afinal, nós somos mulheres.
Quero, também, dizer a vocês que, nessa luta,
tenham empenho, não desanimem, porque nós evoluímos, mas ainda falta muito para
que diminua esse grande número de maus-tratos, que vemos nos registros
policiais, na imprensa, e no cotidiano. Parabéns para vocês todas. Obrigada.
(Não revisado pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): A Ver.ª Luiza Neves está com a palavra, nos termos
do art. 206 do Regimento.
A SRA. LUIZA
NEVES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras, quero saudar, aqui,
a Silvana Conti, Presidente do Comdim, que vem a esta Tribuna Popular com um
tema tão palpitante, atual, nesta Semana da Mulher. Ela nos traz, na Câmara
Municipal de Porto Alegre, nesta Legislatura composta por oito mulheres, este
assunto de políticas públicas para mulheres, participação política e de luta
pelo fim da violência contra as mulheres.
A Silvana tem nos acompanhado, acompanhado o nosso
trabalho, nós conseguimos aprovar, semana passada, a Frente Parlamentar pela
eliminação de todo o tipo de violência e discriminação contra a mulher. Agora,
nós estamos trabalhando para a implementação, para o lançamento dessa Frente, e
queremos que seja uma Frente ampla, não apenas composta por mulheres, mas
composta por homens e mulheres. Estamos convidando os Vereadores desta Casa
para que se somem a nós, para que todo o tipo de violência, de discriminação,
de perseguição, de abuso, seja banido, seja colocado fora. E que todos nós,
homens e mulheres, Vereadores e Vereadoras, possamos, sim, triunfar, vencermos
todos os tipos de barreira que possam impedir que isso aconteça.
Quero saudá-la, parabenizá-la, e dizer que nós,
aqui, as oito mulheres, nesta semana, estamos unidas em toda a programação.
Saúdo, também, a Walesca Vasconcellos, Secretária Adjunta para as mulheres da
nossa Secretaria de Direitos Humanos, que já mencionei em outra ocasião aqui
sobre todo tipo de trabalho que a Prefeitura Municipal de Porto Alegre também
tem feito, como centro de referência no atendimento à mulher vítima de
violência, e que tem, sim, também, feito ações concretas, efetivas, para que a
violência contra a mulher seja acabada no nosso Município. Obrigada; que Deus
abençoe a todos.
(Não revisado pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Ver. Rodrigo Maroni está com a palavra, nos
termos do art. 206 do Regimento.
O SR. RODRIGO
MARONI: Obrigado, Sr. Presidente. A Silvana é uma lutadora, uma batalhadora
histórica da Cidade. A gente fica muito feliz em te receber aqui. A Jussara me
pediu para fazer esta homenagem a ti especificamente. A Jussara é uma
representante também da história das mulheres e dos homens do Estado do Rio
Grande do Sul. Vejo aqui várias mulheres: a Bruna, a Maristela Maffei, que
também foi Vereadora aqui, a Mila, entre outras mulheres que têm as suas
histórias, Vereadoras, que têm uma trajetória toda por trás. Eu acho que, mais
do que uma semana ou um dia, Silvana, o que a gente deve ter em mente é que foi
construída, historicamente, toda uma construção. Eu sempre digo, até de forma
informal: o homem não entende que a mulher, pela própria natureza dela, tem uma
sabedoria, constitui uma cultura social, como a gente tem hoje estabelecida. E
a gente trabalha para reverter. Há toda uma construção social, salarial,
econômica, de discriminação histórica, que é uma forma de amenizar, talvez,
essa condição de a mulher ter, pelo elemento da natureza, uma força, uma
sabedoria que a gente sabe que existe de gerar, de construir, a partir da sua
própria constituição, que é diferente do homem. Eu acho que o fundamental aqui
não é estabelecer uma relação de melhor ou pior, mas de diferença e de
respeito, que é o fundamental. Eu, inclusive, não fazendo aqui nenhum tipo de
proclamação para cá ou para lá, como defensor incondicional da luta das
mulheres, digo que não julgo, por exemplo, a propaganda da Prefeitura ontem
como algo, enfim, que teve uma intenção ou algo que possa ser agressivo no
sentido intencional. Mas eu acho que seria fundamental, neste momento,
refletir, porque a coisa é muito além. As mulheres, sim, não precisam abrir mão
da sua doçura, da sua leveza, da sua sensibilidade, da sua poesia de viver e da
forma que se tem, mas a gente sabe que também as mulheres têm todo um outro
lado e uma condição que é muito difícil e que, essa sim, é a prioridade e o que
deve ser tratado como protagonismo, quando se dá visibilidade para um tema como
esse, que muitas vezes não é. A gente sabe que aparecem agora propagandas de
lojas, enfim, é o momento em que se dá visibilidade para algo que deveria ser
tratado na vida e no dia a dia, como algo alimentado por todos nós. Obrigado
pela atenção Silvana, em nome da Bancada do PCdoB e a todos os presentes.
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Ver. João Derly está com a palavra para uma
Comunicação de Líder.
O SR. JOÃO
DERLY: Boa-tarde, Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras,
cumprimento a Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto
Alegre, Silvana Conti, é uma satisfação ouvi-la, e demais movimentos sociais
que estão nas galerias, público que nos assiste pela TVCâmara. Gostaria de
saudar, neste dia 8 de março, todas as mulheres pelo dia que é comemorado, e em
especial a minha mãe, D. Vera Lúcia Nunes, uma guerreira que me ensinou e me
levou a uma caminhada muito importante na minha vida, que foi o esporte; a
minha esposa Gabriela que tem sido uma companheira fiel, uma batalhadora, uma
guerreira e hoje está grávida, carregando a nossa filha; três mulheres que
estão surgindo nessa minha vida.
A importância do protagonismo das mulheres na nossa
sociedade hoje tem que ser levada mais a sério, porque hoje as mulheres têm
ocupado espaços – vou citar principalmente na política, com Vereadoras,
Deputadas, Senadoras e a Presidente da República. Essa importância das mulheres
fazerem parte desse protagonismo na política, como também no esporte no qual
quebram tabus, superam limites, como a Daiane dos Santos, primeira mulher a ser
campeã mundial; Mayra Aguiar, no judô, sendo recordista mundial em medalhas em
mundiais juniores, medalhistas olímpicas, medalhistas em mundiais. Então me
somo a essa luta da emancipação das mulheres, que é um compromisso do nosso
Partido, meu, da Ver.ª Jussara Cony, do Ver. Rodrigo Maroni, dos Deputados, do
nosso Presidente Adalberto Frasson, que está aqui nos prestigiando nessa tarde.
Todos estão se somando a essa luta, porque nós aderimos à campanha “Homem de
verdade não bate em mulher”. (Mostra documento.) Mas eu acho importantíssimo
não parar por aí. Então, estou lançando oficialmente uma campanha em parceria
com a Deputada Federal Manuela d’Ávila: “Homem de verdade não bate em mulher” e
“Homem de verdade assume seus filhos”. Eu acho que é de extrema importância os
homens estarem participando e assumindo seus filhos; jovens concebem e têm sido
deixados por seus maridos, namorados, amigos, enfim, mas também um ponto
importante que os homens não percebem é fazerem parte do dia a dia da criação
de seus filhos, construírem a cidadania deles, participando na escola,
participando do esporte, participando da criação no dia a dia dos seus filhos.
Essa questão da paternidade é muito importante. Então, com esse intuito, nós
estamos lançando, hoje, essa campanha. Convido os movimentos sociais, sociedade
civil para se engajar nesta campanha. Acho que é de extrema importância a gente
estar unindo forças para que os homens também assimilem, hoje, essa mensagem
que as mulheres vem lutando para trazer para nós e que muitas vezes não
percebemos. Estou abrindo o meu gabinete para que recebamos todos, o nosso
Partido está aberto para que possamos tocar à frente, Ver. Maroni, esse
projeto, fortalecendo as mulheres que têm alcançado grandes voos na nossa
sociedade. Mas precisamos ainda mais do apoio de todos para que elas alcancem o
seu espaço devido na sociedade. Muito obrigado.
(Não revisado pelo orador.)
(O Ver. Dr. Thiago assume a presidência dos
trabalhos.)
O SR.
PRESIDENTE (Dr. Thiago): Obrigado, Ver. João Derly.
Registro as presenças do Sr. Carlos Fernando
Niedersberg, Presidente da Fepam, e do Sr. Adalberto Frasson, Presidente
Municipal do PCdoB. (Pausa.)
Estão suspensos os
trabalhos para as despedidas.
(Suspendem-se os trabalhos às 14h56min.)
O
SR. PRESIDENTE (Dr. Thiago – às 14h57min): Estão reabertos os trabalhos.
Apregoo
o Memorando nº 31/13, de autoria da Ver.ª Sofia Cavedon, que solicita
representar esta Casa, no dia de hoje, às 19h, na Câmara da cidade de Rio
Grande, sem ônus para esta Casa Legislativa, no evento organizado pela
Prefeitura de Rio Grande, Fundação da Universidade de Rio Grande e Movimento
das Mulheres.
Passamos ao período temático de
Hoje, este período é destinado a tratar do assunto
sobre Políticas para as Mulheres e a Reforma Política.
O Sr. José Luís Espíndola Lopes está com a palavra.
O SR. MESTRE
DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola Lopes): Convidamos para compor a Mesa: a
Sra. Waleska Vasconcelos, Secretária Municipal Adjunta da Mulher; a Elis Regina
Gomes de Vargas, representante da Unegro/RS; a Sra. Ana Naiara Malavolta;
representante da Liga Brasileira de Lésbicas; a Sra. Cláudia Prates,
representante da Marcha Mundial das Mulheres; a Sra. Lea Epping, representante
do Coletivo Feminino Plural; a Sra. Fabiane Dutra, representante da União
Brasileira de Mulheres; a Sra. Sílvia Duarte, representante da Força Sindical;
a Sra. Eremi Melo, representante da CTB; A Sra. Anabel Lorenzi, do PSB,
Secretária Estadual das Mulheres Socialistas do RS; a Sra. Bruna Rodrigues;
Presidenta da UAMPA; e a Sra. Silvana Conti, Presidente do Comdim.
Prestigiam esta solenidade: o Sr. Luciano
Mancantônio, representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Sr.
Fabrício Loguércio, representante do Sr. Hélio Corbelini, Secretário Estadual
do Meio Ambiente; o Sr. Carlos Fernando Niedersberg, Diretor- Presidente da
Fepam; o Sr. Jefferson Henrique Pereira, Assessor Parlamentar do Deputado Raul
Carrion; o Sr. José Olmiro Oliveira Peres, Secretário Adjunto da SMIC; o Sr.
Roberto Jakubaszko, Conselheiro da 1ª Região de Planejamento do CMDUA; a Sra.
Karina D’Ávila, Secretária Adjunta dos Povos Indígenas e Direitos Específicos;
o Sr. Albano Assis, Secretário Adjunto da Livre Orientação Sexual; e a Sra.
Maristela Maffei, ex-Vereadora deste Legislativo.
Com a palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal
de Porto Alegre, Dr. Thiago.
O SR.
PRESIDENTE (Dr. Thiago): Muito obrigado, quero saudar aqui todas as mulheres
que estão presentes à Mesa, as nossas Vereadoras que organizaram esta Sessão e
essas atividades, as Vereadoras Mônica Leal, Luiza Neves, Lourdes, Jussara Cony
– que está atravessando gerações e nos ajudando muito a construir um
Legislativo melhor –, Any Ortiz, Fernanda Melchionna, Séfora Mota, Sofia
Cavedon. Esta é a Legislatura, caras Waleska, Elis Regina Gomes, Ana Naiara,
Cláudia Prates, Lea, Fabiane, Sílvia Duarte, Eremi Melo, Anabel Lorenzi, Bruna
Rodrigues, Professora Silvana Conti, em que nós temos o maior número de
mulheres da história desta Câmara Municipal. Eu tenho o prazer de abrir a
presidência nesta Legislatura e, como eu não acredito em coincidência, para
mim, que trabalho há 16 anos com as mulheres, procurando cuidar das mulheres, é
uma grande satisfação.
O Ver. Tarciso Flecha Negra está com a palavra para
uma Comunicação de Líder.
O SR. TARCISO
FLECHA NEGRA: Boa-tarde, Presidente, e, cumprimentando o Presidente, eu quero
cumprimentar toda a Mesa: parabéns, mulheres, parabéns! Acho que não há como
agradecer vocês por tudo, por eu existir, por ser esse homem que sou hoje. E
quero agradecer principalmente à minha mãe, que já não está mais aqui, mas
gostaria de deixar registrado, pois sei que ela está me ouvindo e vendo que seu
filho venceu, que venceu os preconceitos. Quando falo em vencer, não é vencer no
futebol, não é vencer uma luta, mas vencer contra os preconceitos injustos que
existem contra as mulheres e contra os negros.
Gostaria de deixar registrado, ainda, nesta tarde,
os meus cumprimentos àquelas mulheres que representam a força da mulher na sociedade.
Foram muitos anos de luta e de injustiça até que as mulheres conseguissem
direitos simples, como o de votar e o de ocupar cargos públicos. Hoje temos o
prazer de compartilhar a experiência com oito Vereadoras, com as quais
diariamente debatemos a igualdade, temas necessários para o bem-estar de nossa
Porto Alegre. Quero dizer às minhas colegas Vereadoras Any Ortiz, Fernanda
Melchionna, Jussara Cony, Lourdes Sprenger, Luiza Neves, Mônica Leal, Séfora
Mota e Sofia Cavedon que vocês representam um grande feito para a história,
pois são exemplos de luta e determinação.
Na verdade, as mulheres não precisam de um dia
especial, pois estão vivas e são atuantes independentemente do dia. Na verdade,
elas nunca possuem folga – elas cuidam da casa, dos filhos, tornam-se chefes de
família e ainda conseguem lutar por melhores oportunidades e por direitos
perante os homens na sociedade –, mas essas mesmas mulheres que somam tantas
conquistas ao longo da história ainda não deixaram de ser alvo da violência
doméstica e de outras agressões. Como representante negro na política, conheço
essa realidade e, por isso, luto pelos direitos do povo afro, luto pelo
bem-estar social e, principalmente, pela igualdade entre os homens e as
mulheres. A todas as mulheres, deixo o meu
agradecimento e o meu respeito. Quero agradecer aqui também à minha esposa.
Obrigado! Se não fosse junto contigo, a minha vida seria muito, muito difícil.
Você, Jô, tornou a minha vida mais alegre, mais saudável e fez eu acreditar que
a gente pode conquistar. Juntos, a gente conquista. Quero agradecer a todas as
gurias do meu Gabinete. Eu tenho sete mulheres que trabalham lá comigo, e eu
quero agradecer, de coração, a essas gurias: Ana, Cláudia, Giane, Luísa,
Natasha e Débora. Obrigado por esse carinho, obrigado por terem essa paciência
com este Vereador. Eu só tenho que agradecer a vocês. Eu sou o que sou por
causa de vocês. Obrigado.
(Não revisado pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Thiago): Então, agora
eu passo a palavra para as nossas convidadas, para as suas manifestações, cada
uma delas terá três minutos. E eu quero dividir esta Presidência, esta
coordenação dos trabalhos com as mulheres Vereadoras da Câmara de Porto Alegre.
Eu vou iniciar a condução e, paulatinamente, vou trocando com as Vereadoras da
Câmara de Porto Alegre. Então, já convido a Ver.ª Lourdes Sprenger para me
suceder neste período.
A Sra. Waleska
Vasconcelos, Secretária Adjunta da Mulher, está com a palavra no período
temático de Comunicações.
(A Ver.ª Lourdes
Sprenger assume a presidência dos trabalhos.)
A SRA. WALESKA VASCONCELOS: Boa-tarde a
todas, quero saudar as mulheres citando os nomes de Luiza Neves, minha
companheira de Partido, Vereadora desta Casa; Silvana Conti, Presidente do
Comdim – Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; e a Ver.ª Jussara Cony. O
tema de hoje é a reforma política. Pretendo ser breve para que a gente possa
aproveitar melhor este momento, numa ação como essa, promovida pela Ver.ª
Jussara Cony. Na nossa opinião, a reforma política é necessária e urgente, pois
é um dos instrumentos para implementação de políticas públicas, por isso atinge
diretamente as mulheres. A reforma política reduz, a ponto de erradicar, os
obstáculos que impedem a mulher de participar mais ativamente da política.
Completará a cultura patriarcal da política, cultura essa patriarcal que cria
um ambiente adverso e desfavorável, na medida em que desqualifica a mulher,
colocando-a numa posição de inferioridade. A reforma política irá auxiliar na
implementação das políticas públicas das mulheres, fortalecendo a democracia,
fortalecendo assim as ações como a criação das coordenações das mulheres nos
Municípios e Estados, ou Secretarias, e vai desenvolver atividades como
encontros, seminários e oficinas que gerem um acúmulo necessário às mulheres,
promovendo o acesso de todas as mulheres aos programas municipais, estaduais e
federais, assim ampliando e melhorando esses acessos. Esses instrumentos servem
para combater toda e qualquer discriminação de raça, etnia, sexo, idade,
religião e orientação sexual.
Para finalizar, eu
gostaria de deixar uma frase de Simone de Beauvoir que diz o seguinte: “Não há
pegada em meu caminho que não passe pelo caminho do outro”. Muito obrigada e
boa-tarde. (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola
Lopes): Sra. Presidente, com a sua permissão, gostaria de
citar que prestigiam ainda esta solenidade o Sr. Ivandro Morbach, Chefe de
Gabinete da Deputada Manuela d’Ávila; a Sra. Fabíola Pavani, Vice-Presidente da
UMESPA; Sra. Ana Carolina da Silva, Diretora da UBES; e o Sr. Marcos Puchalski,
Presidente da UJS.
A SRA. PRESIDENTE (Lourdes Sprenger): A Sra. Elis
Regina Gomes de Vargas, representante da Unegro, está com a palavra no período
temático de Comunicações.
A SRA. ELIS REGINA GOMES DE VARGAS: Boa-tarde a
todos e todas, eu queria saudar a Mesa, em nome da nossa guerreira Silvana
Conti, saudar os Parlamentares, em nome da nossa outra guerreira Jussara Cony
e, em nome da plateia, eu queria saudar uma militante histórica que é a Vera
Deise, nossa Conselheira do Codene, que está aqui e é muito empenhada.
(Palmas.) Eu sou a Elis Regina, Presidente Estadual da Unegro. A Unegro é uma
entidade que luta pela igualdade de direitos para negros e negras. Hoje, a
Unegro tem, na sua vice-presidência nacional, uma mulher; na sua presidência
estadual, uma mulher; e na sua direção estadual, hoje, 60% dessa direção são
mulheres.
Eu vou abordar nesses
minutos a questão da mulher negra, que, entre todos os segmentos, é a mais
discriminada, pois ocupa cargos onde tem a mesma qualificação profissional, mas
sua remuneração é menor do que a do homem negro ou branco e menor do que a da
mulher branca. A maioria das mulheres é chefe de família e, segundo o CMDCA, é
considerada uma violadora de direitos. Como a gente entende uma mulher negra,
guerreira, chefe de família ser violadora de direitos, segundo o CMDCA? Para
entender o porquê desse dado do Conselho não é muito difícil, gente. A mão é
obrigada a deixar seu filho na escola e, quando sai para trabalhar, deixá-lo em
lugar seguro para que não precise violar direitos. Mas onde está a creche? Onde
está a escola de educação infantil? São coisas que a mulher precisa para
trabalhar, para poder sair para trabalhar e sustentar sua família! E aí o que ela
faz? Ela tem que trabalhar! Ela deixa os filhos sozinhos, e reza o dia inteiro
para que, quando ela voltar, possa encontrá-los bem. Não é? Ou fica em casa
vendo os seus filhos com necessidades que ela não tem como suprir! Penso que um
dos maiores violadores dos direitos da mulher e da mulher negra é o Poder
Público, espaço esse que na sua maioria é ocupado por homens. Por isso
entendemos ser de suma importância a reforma política. Nós, mulheres, somos
maioria em quase todos os setores e, mais ainda, ocupamos poucos espaços de
poder. Não temos nem o direito de decidir sobre o nosso corpo. Avançamos na
nossa luta em relação ao direito ao voto, à Lei Maria da Penha. Mas tenham a
certeza de que outro mundo só será possível quando, realmente, mulheres e homens,
negros e brancos, tiverem direitos iguais.
Comemoramos em 2013
os 81 anos do voto feminino. Nosso País é governado por uma Presidenta; esta é
a hora da nossa plena representação como Vereadoras, Deputadas, Senadoras
trilhando o caminho aberto pelas heroicas contribuições dessas mulheres
fantásticas e desbravadoras. E, por isso mesmo, defendemos uma reforma política
que democratize as relações políticas no Brasil, através do fortalecimento do
voto do eleitor e dos Partidos, com financiamento público. Dessa forma,
diminuirá o espaço e o papel do poder econômico nas decisões políticas.
Nesses últimos 10
anos, foram criadas inúmeras políticas públicas, sendo a mais recente o Pacto
Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres e promulgada a Lei Maria
da Penha. A emancipação das mulheres está completamente entrelaçada com as
lutas por democracia, justiça social, erradicação de todas as formas de
violência e discriminações sociais e raciais. As desigualdades ainda são
intensas, particularmente a discriminação sofrida por nós, mulheres.
Enfrentamos todos os dias uma dupla discriminação por sermos mulheres e por
sermos negras. É necessário construirmos um pacto contra o racismo, criar
políticas públicas especificamente voltadas para essa vergonha nacional.
Racismo é crime!
A dependência
econômica da mulher somada à falta de acesso qualificado ao mundo do trabalho
tem contribuído para a manutenção da violência, e nós, mulheres, somos as
maiores vítimas atingidas em nossa saúde física, mental e emocional, expandindo
para toda a família. É preciso empoderar as mulheres. É tarefa do poder público
construir redes de apoio e proteção à mulher, principalmente ao que se refere à
violência doméstica.
Exigimos a
implementação imediata da Lei Maria da Penha, com o desdobramento dos serviços
especializados e setoriais capacitados e de qualidade. E para que isso possa se
concretizar é necessário que, de fato, esta Casa e os ilustres Vereadores e
Vereadoras contemplem essas rubricas no Orçamento Municipal. Não há volta. As
mulheres estão em todos os espaços e vieram para ficar. (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Lourdes Sprenger): Solicito que a Ver.ª Mônica Leal assuma a
presidência dos trabalhos.
A Sra. Ana Naiara Malavolta, representando a Liga
Brasileira de Lésbicas, está com a palavra no período temático de Comunicações.
(A Ver.ª Mônica Leal assume a presidência dos
trabalhos.)
A SRA. ANA
NAIARA MALAVOLTA: Boa-tarde a todos e a todas; a minha saudação às
companheiras guerreiras que compõem a Mesa hoje, neste debate importante, às
vésperas de um dia que é extremamente importante para nós; também saúdo as
Vereadoras e os Vereadores presentes. Antes de entrar no tema, não posso deixar
de registrar que ali no painel constam 31 presentes, e, na realidade, está aqui
menos da metade desse número participando deste debate, o que, para nós, já
indica a importância que tem a reforma política dentro do Brasil, hoje em dia.
Nós entendemos, a Liga Brasileira de Lésbicas, que
é a entidade que eu venho aqui representar hoje, que a reforma política não vai
acontecer no País sem financiamento público exclusivo de campanha. E não vai
acontecer sem o envolvimento dos movimentos sociais, pressionando para que
aconteçam. Também não vai acontecer sem que tenhamos a lista pré-ordenada
paritária de gênero, como forma de indicação dos nomes que compõem o
Parlamento. Não podemos deixar de chamar a atenção de que, apesar de esta ser a
Legislatura em que há o maior número de mulheres na Câmara Municipal de Porto
Alegre, isso não chega a 20% dos Parlamentares que ocupam esta Câmara. É um
número ínfimo e penso que a primeira pergunta que deve ser colocada – e acho
que deve ser dirigida aos representantes dos Partidos, às Lideranças dos
Partidos dentro da Câmara – é: qual é o papel do seu Partido político para que
esse avanço efetivamente aconteça e para que a igualdade de gênero dentro dos
Parlamentos se efetive no Brasil? Parece-me que são – e me corrijam se eu
estiver errada – sete Partidos que têm representação feminina, hoje, na Câmara
Municipal de Porto Alegre. Em nenhum Partido há mais de uma representante
mulher. A invisibilidade das mulheres nas políticas públicas no Brasil acontece
pela invisibilidade de representação política, pela invisibilidade na decisão
política do País, que está representado pelo número ínfimo de mulheres que se
elegem hoje. E, por óbvio, não dá para eu deixar de falar aqui da
invisibilidade que atinge também as mulheres lésbicas de uma forma geral. A gente não tem nenhuma Vereadora autoidentificada como lésbica no
Estado do Rio Grande do Sul. Não que elas não existam, a gente sabe que
existem, mas porque o seu papel no Parlamento seria infinitamente mais difícil
se assumissem a sua condição sexual.
A gente tem uma
situação muito crítica no Brasil representada pelo que aconteceu hoje no
Congresso Nacional e, felizmente, queria saudar a companheira Ver.ª Fernanda
Melchionna, que é a Presidente da Comissão de Direitos Humanos aqui na Câmara
de Vereadores, o que representa para nós um avanço infinitamente maior do que o
que aconteceu hoje no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, onde um
Partido indica, o Partido Social Cristão indica um componente, não por ser do
Partido Social Cristão, que tinha todo o direito de ocupar aquele espaço, mas por
ser uma pessoa com manifestações visivelmente homofóbicas, visivelmente
racistas, que ocupa uma Comissão de Direitos Humanos; isso prejudica não apenas
as mulheres lésbicas, não apenas a população LGBT, mas as minorias que se fazem
representar naquele espaço. (Palmas.)
A Liga Brasileira de
Lésbicas se manifesta em luto nesta Câmara de Vereadores tendo que,
infelizmente, desfocar o ponto do nosso debate para esse debate que nos parece
muito importante. Não vamos silenciar! Vai ser na rua que vamos disputar aquele
espaço. Se tiver que esvaziar, infelizmente esvaziaremos as funções da Comissão
de Direitos Humanos na Câmara, porque não há outra forma de protestar senão
esta que a gente encontra na rua, dos movimentos sociais.
Para finalizar,
convido todas as companheiras e companheiros que nos assistem pela TVCâmara
para estarem nas ruas amanhã conosco, na caminhada que vai acontecer, unitária,
do Movimento Feminista, a partir das 16h, com concentração no Largo Glênio
Perez, e dizer às Vereadoras...
(Som cortado
automaticamente por limitação de tempo.) (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
A SRA. PRESIDENTE (Mônica Leal): Chamamos a
representante da Marcha Mundial de Mulheres, Sra. Cláudia Prates. (Pausa.)
Ausente.
Com a palavra a Sra.
Lea Epping, representante do Coletivo Feminino Plural, no período temático de
Comunicações.
A SRA. LEA EPPING: Boa-tarde a todos e
a todas. Saúdo a Mesa, as companheiras que vieram aqui, lembrando o fato que
aconteceu no ano passado, triste, o assassinato da Márcia; ontem também nós tivemos o caso Bruno, revelando que já sabia do assassinato da
Eliza Samudio. É uma data muito próxima de comemoração da luta dos direitos das
mulheres.
Eu venho aqui
representando o Coletivo Feminino Plural, que é uma entidade que há 17 anos
trabalha e luta pelos direitos das mulheres e das meninas. Venho também falar
de um ponto de vista como cientista política que trabalha com a juventude e com
a socialização de gênero. Neste ano em que se comemoram 81 anos da conquista do
voto feminino, devemos refletir por que, mesmo tendo esses 30% reservados à
cota feminina, temos uma baixa participação feminina nas Bancadas. Tenho para
mim que tem a ver com a socialização de gênero, que tem uma matriz cultural
patriarcal, que leva a nossa juventude feminina a uma dicotomia entre o público
e o privado, onde nós temos como diretriz que o público é voltado para o mundo
formal e o privado para assuntos domésticos. Entram aí, por exemplo, questões
da violência, que é restrita ao âmbito privado, e, por isso, só recentemente
nós tivemos a Lei Maria da Penha aprovada.
Venho aqui falar que
para conquistarmos essa reforma política que tanto desejamos, com todos esses
pontos já levantados pela Naiara, nós precisamos ter esse olhar na educação da
nossa juventude, numa socialização de gênero que não leve mais meninas a uma
dicotomia, mas também ao mundo público, ao mercado de trabalho, com
valorização. Agradeço muito pela oportunidade de falar. Boa-tarde. (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
(A Ver.ª Fernanda
Melchionna assume a presidência dos trabalhos.)
A SRA. PRESIDENTE (Fernanda Melchionna): Boa-tarde a todas, à Mesa feminina e feminista. Queria, antes de passar a palavra para
a próxima oradora, também lamentar profundamente a “omissão de direitos
humanos” que o Congresso Nacional passou no dia de ontem. Infelizmente, alguém
intolerante está à frente de uma Comissão tão importante, e reafirmo a nossa
Comissão como uma guarida das outras pela igualdade, pelo combate à homofobia,
pela igualdade de gênero e combate ao racismo.
A Sra. Fabiane Dutra, representante da União
Brasileira de Mulheres, está com a palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. FABIANE
DUTRA: Obrigada, Fernanda. Boa-tarde a todos e a todas. Em primeiro lugar,
quero agradecer o convite, parabenizando a Bancada feminina por toda a
programação e não só pelo dia de hoje, mas desde o dia 5, com a exposição que
todos têm a oportunidade de ver no saguão e que se estende até o dia 10, quando
estaremos todas juntas na Redenção.
Para discorrer um pouco a respeito das políticas
públicas para as mulheres e a reforma política, temos algumas coisas sobre as
quais não podemos deixar de tratar: que tipo de políticas públicas nós
queremos? Com certeza não são apenas políticas paliativas que resolvem parte do
problema ou tendem a escondê-lo. Precisamos de políticas públicas que garantam
uma vida digna para todas as mulheres, com autonomia econômica, política e
social a partir da geração de trabalho e renda. Aí, quero parabenizar a Ver.ª
Jussara Cony, em especial, pelo Projeto que ela protocolou tão logo chegou
novamente a esta Casa. Espero que todos os Vereadores a apoiem nessa iniciativa
que prioriza as mulheres chefes de família e vítimas de violência para os
programas de capacitação para o trabalho e geração de renda. Assim, as mulheres
têm mais possibilidade e se fortalecem para sair dos ciclos de violência,
porque, com certeza, tendo autonomia econômica, fica mais fácil sair do ciclo
de violência vivenciado. Falando de violência, não posso deixar de colocar que
a Lei Maria da Penha, apesar de ser um grande avanço, ainda não tem sido
totalmente implementada. Isso para nós é fundamental para que as mulheres
acreditem que não ficarão impunes os crimes cometidos por seus parceiros,
namorados, às vezes até por algum membro da família como irmãos, tios, enfim,
principalmente as jovens, porque, às vezes, é o irmão que comete a violência, e
tudo isso está dentro da Lei Maria da Penha.
Também a questão dos equipamentos sociais, que são
políticas públicas que são muito necessárias para que as mulheres possam
estudar, trabalhar e participar politicamente da vida social, estar em espaços
públicos como este. Nós precisamos de mais creches também no turno da noite,
para que as mulheres que trabalham o dia inteiro possam estudar e, assim,
garantir uma mobilidade social, uma vida melhor para os seus filhos. E por que
não aos finais de semana, nos sábados principalmente, já que muitas mulheres
trabalham aos sábados e não têm onde deixar seus filhos.
A questão das lavanderias públicas, dos
restaurantes também, com um preço mais acessível, para que a gente não fique
presa às tarefas domésticas e possa exercer plena cidadania.
A questão dos direitos sexuais e reprodutivos: a
gente tem aprovada a vacina contra o HPV, foi aprovada na Câmara Federal, eu
espero que em breve toda a rede do SUS possa estar oferecendo às mulheres
porque isso evitará, com certeza, muitas doenças que acometem as mulheres,
principalmente o câncer de colo, do útero.
A questão da promoção de imagem da mulher real nos
meios de comunicação. Ontem nós tivemos o exemplo de que, muitas vezes, o que
mostram não é a mulher real, trabalhadora, guerreira, que tem vaidade, sim, mas
que não se prende a coisas fúteis e pequenas, como a preocupação de quebrar a
unha ou de não ter um chocolate para comer durante a TPM. Todas nós, do
Movimento, acho que todas as mulheres ficaram chocadas com essa ação, que, se
foi uma brincadeira, foi uma brincadeira muito sem graça.
A questão da reforma política, a Naiara colocou
bem. Para nós não tem como aprovar uma reforma política que não seja com
financiamento público exclusivo de campanha. Nós não queremos ficar reféns do
poder econômico das grandes empresas que acabam elegendo representantes que
atendem aos seus interesses no Poder Público e não aos interesses da sociedade.
Nós não podemos aceitar que, numa reforma política, não esteja incluído esse
ponto. E a lista fechada com alternância de sexo... de gênero, desculpem,
porque nós queremos também que transexuais, lésbicas e gays participem desses espaços. Mas, com certeza, nós teremos, em
Câmaras de Vereadores e Câmaras Federais, em todos os espaços públicos, muito
mais mulheres participando.
Só para encerar, me desculpem por extrapolar o
tempo, eu queria dizer para todos os movimentos aqui presentes que a gente
possa trazer outros movimentos para debater, para que possamos discutir
bandeiras amplas que nos unifiquem. Não adianta eu, que sou da União Brasileira
de Mulheres, e outros movimentos, cada um travar uma luta específica em determinado
espaço, se não conseguirmos definir bandeiras que possam nos unificar, nos
fortalecer para que garantamos conquistas maiores e, de fato, políticas
públicas ou reformas que assegurem que a nossa luta, trocando o Governo, vá ter
sucesso... Só assim vamos conseguir, com certeza, ter uma vida melhor e
garantir uma vida melhor para todas as mulheres. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Fernanda Melchionna): Muito obrigada, Fabiane. Queria chamar agora a
Ver.ª Luiza Neves para presidir. Só fazendo uma retificação: a votação secreta
foi hoje pela manhã, uma votação obscura para eleger o Presidente da Comissão –
ou melhor, da omissão – de Direitos Humanos no Congresso Nacional; uma
vergonha, certamente, para os movimentos sociais populares, sobretudo para o
Congresso!
(A Ver.ª Luiza Neves assume a presidência dos
trabalhos.)
A SRA.
PRESIDENTE (Luiza Neves): A Sra. Sílvia Duarte, representante da Força
Sindical, está com a palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. SÍLVIA
DUARTE: Uma boa-tarde a todos, é um prazer, mas são momentos difíceis no avanço
da luta das mulheres. A Força Sindical do Rio Grande do Sul, no dia de amanhã,
fará 22 anos de fundação no Estado. E não é à toa isso, é porque a situação,
tem muitas coisas... nada mudou no fronte apesar da nossa luta, apesar da nossa
indignação. Eu queria dizer, Delegado Cleiton, que só a mulher negra sabe o que
é ir fazer um teste para um comercial, ser olhada de cima a baixo e ouvir dizer
que foi um engano. Só a mulher negra sabe, a trabalhadora negra sabe o que é
ser promovida a um cargo de chefia, e os seus colaboradores resistirem a ser
liderados e comandados por aquela mulher negra que foi promovida pelo seu
mérito, pela sua competência – e muitos deles se retirarem. Só a mulher negra
sabe – e as mulheres, não só as negras, neste momento – o que é ter que dizer
que não tem filho na ficha de emprego para poder garantir o seu emprego, o seu
salário do dia a dia para botar o leite na mesa do filho. Só a mulher sabe o
que é tomar porrada e ter que engolir o choro para não contar para o seu filho
que foi o pai dele que bateu. Vinte e cinco anos da Delegacia da Mulher, e nós
temos um número irrisório, nós temos um Estado onde a violência cresce
extremamente a cada dia. Hoje nós temos uma demanda, e o julgamento demora.
Então, nós estamos precisando, Ver.ª Jussara Cony,
a quem conheço há 30 anos nessa luta, nos indignar mais. Precisamos nos
indignar muito mais! Entendeu? Botar o pé na porta! (Palmas.) Porque está muito
na discussão, eu não vejo nada de novo no fronte! Por mais que a gente lute por
políticas públicas, as nossas adolescentes, nas comunidades, têm um filho atrás
do outro, porque não existe a perspectiva duma profissão, duma vida mais
adiante. É disso que eu estou falando! E amanhã ela apanha daquele mesmo jovem
que ela preferiu fazer um filho dele a ir trabalhar e ter uma perspectiva de
vida, uma profissão, um estudo. É disso que eu estou falando! Nós precisamos,
sim, nos indignar muito mais. Estamos muito indo muito lentamente no processo,
estamos precisando gritar, e bem alto.
Se vocês me permitirem, eu vou ler um poema da
Conceição Evaristo, “Eu-Mulher”, que diz assim (Lê.): “Uma gota de leite/me
escorre entre os seios./ Uma mancha de sangue/ me enfeita entre as pernas/Meia
palavra mordida/me foge da boca./Vagos desejos insinuam esperanças./Eu-mulher
em rios vermelhos/inauguro a vida./Em baixa voz/violento os tímpanos do mundo./
Antevejo./Antecipo./Antes-vivo/Antes – agora – o que há de vir./Eu fêmea-matriz./Eu
força-motriz./Eu-mulher/ abrigo da semente/moto-contínuo do mundo.” Vamos nos
indignar! (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Luiza Neves): Muito obrigada, Sra. Sílvia Duarte. Queremos
lembrar que esta tarde temática foi organizada pelas oito Vereadoras mulheres,
que escolheram estes temas – políticas públicas para as mulheres e a reforma
política.
A Sra. Eremi Melo, representante da CTB, está com a
palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. EREMI
MELO: Boa-tarde a todos e a todas, muito obrigada pelo convite. Quero
parabenizar a Câmara de Vereadores por esta atividade no 8 de março, Dia
Internacional da Luta das Mulheres. Nós, as mulheres trabalhadoras da CTB,
queremos dizer que vivemos um novo momento no nosso País: uma mulher preside o
nosso País, luta para implementar um novo projeto nacional de desenvolvimento
que valorize as mulheres e os homens e todo o povo brasileiro, principalmente o
nosso povo gaúcho. Só com reformas, de fato, democráticas é que a gente vai ter
a conquista plena da democracia. Por isso que para nós, as trabalhadoras do
campo e da cidade, é importante, sim, a redução da jornada de trabalho sem
redução de salário, o fim do fator previdenciário – ontem, nós fizemos uma
grande marcha em Brasília, com mais de 50 mil trabalhadores e trabalhadoras.
Queremos, as trabalhadoras, a reforma política, até porque, nós, do movimento
sindical, ainda não conquistamos esses espaços maiores, são poucas as mulheres
que dirigem sindicatos, que são presidentes de entidades. Nós precisamos
avançar também nesse caminho.
A reforma política também vem contribuir para o
mundo do trabalho. É por isso que a CTB, uma central que está comemorando cinco
anos, está nessa grande luta e participa e considera que nós vivemos um Governo
que está lutando pela democracia, que está lutando para implementar, de fato,
reformas que ampliem os nossos direitos, principalmente a questão dos 180 dias
de licença-maternidade, o que vai contribuir para que as mulheres trabalhadoras
passem mais tempo com seus filhos.
Não posso deixar de falar aqui que nós, que
trabalhamos na fábrica, esse espaço ainda, infelizmente, é muito machista, nós
sofremos ainda muitas questões, temos muitos desafios para enfrentar, como é o
caso do assédio moral e do assédio sexual. Então, a gente precisa avançar
nessas lutas, e as nossas centrais têm um grande papel nesse enfrentamento. Por
isso é muito importante o Parlamento travar a luta junto com a classe
trabalhadora. Então, neste 8 de março, eu acho que nós temos muito para
comemorar, mas ainda precisamos muito, sim, ocupar as praças, ocupar as ruas, e
dizer para essa nova sociedade, para essa juventude, que tudo o que temos hoje
foi muita luta para a gente conquistar. Muito obrigada. Viva o nosso dia, o Dia
Internacional da Mulher! (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Luiza Neves): Gostaria de chamar a Ver.ª Jussara Cony para
presidir a Sessão. Agradeço aos colegas Vereadores, em especial ao nosso
Presidente, Ver. Dr. Thiago, que nos permitiu presidir nesta tarde esta Sessão
Especial pela Semana da Mulher. (Palmas)
(A Ver.ª Jussara Cony assume a presidência dos
trabalhos.)
A SRA.
PRESIDENTE (Jussara Cony): Há uma frase que foi escrita há muito tempo, no
século passado, em 1968, no Teatro Odeon de Paris, e certamente todas as
companheiras que já falaram ou que vão falar – aqui nesta Mesa está o mundo da
luta das mulheres, as legítimas representantes do mundo da luta das mulheres –
estão em consonância com esta frase: “Arrisca tua cabeça pensando o que ninguém
pensou; arrisca teus passos andando por onde ainda ninguém andou”. Essa frase
resume a luta das mulheres ao longo de milênios.
Neste momento em que temos oito Vereadoras aqui, e
se faz a Semana da Mulher com essa dimensão da relação política de um
Legislativo como um todo, com as lutas organizadas das mulheres às vésperas de
um 8 de março, sem dúvida, corremos riscos, todos, mas queremos correr muito
mais riscos para a verdadeira emancipação política das mulheres e do povo.
(Palmas.)
A Sra. Anabel Lorenzi, representante da Secretaria
Estadual das Mulheres do PSB, está com a palavra no período temático de
Comunicações.
A SRA. ANABEL
LORENZI: Boa-tarde a todos e a todas. Uma saudação muito especial à nossa amiga
Jussara Cony, que neste momento preside os trabalhos aqui nesta Câmara de
Vereadores. Quero saudar as Vereadoras mulheres que compõem o Legislativo de
Porto Alegre; saudar os Vereadores desta Casa; saudar, em nome da Silvana
Conti, que é Presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, as
demais integrantes da Mesa que já se manifestaram; saudar a minha companheira
Maria Luiza, que compõe o Conselho Municipal e que é a Secretária Municipal das
Mulheres Socialistas de Porto Alegre – muito obrigada pela presença e pelo teu
trabalho, Malu. Gostaria de saudar ainda toda assistência e todos aqueles que
nos prestigiam nesse momento. Por fim, saudar a iniciativa da Câmara de
Vereadores de fazer um momento de comemoração, mas que é muito mais do que uma
comemoração, é uma reflexão sobre a condição das mulheres nos dias de hoje. É
disso que nós precisamos: muito debate e muita reflexão para que possamos
continuar avançando nas nossas lutas e nas nossas conquistas.
Eu falo aqui em nome do Partido Socialista
Brasileiro, na condição de Secretária Estadual das Mulheres Socialistas. Para
mim, é uma honra fazer essa manifestação em defesa da reforma política, pois,
sem ela, de fato, não estaremos em condições de igualdade no espaço político
brasileiro. Para nós, esse é um elemento fundamental para que nós possamos
estar em pé de igualdade.
Eu queria trazer aqui alguns dados que
provavelmente devem ser de conhecimento de todos, mas que nunca é demais
lembrar.
Nós somos mais da metade da população brasileira,
somos mais da metade do eleitorado brasileiro, e, no entanto, nas ultimas
eleições, nas eleições dos Municípios, tivemos apenas 13,3% de mulheres eleitas
Vereadoras. Portanto, estamos muito aquém daquilo que somos no Brasil e
precisamos discutir, avaliar o porquê disso. Apesar de já termos a legislação
da cota que nos coloca a necessidade de termos 30% de mulheres, elegemos apenas
13% dos Vereadores e Vereadoras. Isso mostra que precisamos alterar a questão
cultural, só a cota não resolve. Então, a reforma política, apontando para o
financiamento público das campanhas, como já foi aqui bastante frisado, e a
lista pré-ordenada vão remeter, sim, com certeza, a uma condição diferenciada.
Nós precisamos garantir que não tenhamos apenas a cota, pois ela está mostrando
que não resolve a nossa situação. Nós precisamos que os partidos rompam as
barreiras internas, e todos têm, inclusive os Partidos de esquerda, que,
infelizmente, apresentam essas questões internamente. Portanto, no quadro do
ano passado, vimos muitas candidatas “laranjas”, muitas candidatas que foram
colocadas nas nominatas apenas para preencher cotas. Enquanto isso continuar
existindo, nós, obviamente, não vamos eleger o número de mulheres que
corresponda à nossa presença na sociedade. Então, nós, do Partido Socialista
Brasileiro, defendemos, sim, a reforma política com o financiamento público de
campanha, com a lista pré-ordenada, com a unificação do calendário eleitoral,
porque, do nosso ponto de vista, hoje, com as eleições ocorrendo de dois em
dois anos, há muito tempo dispensado às eleições, enquanto muitas vezes o
trabalho fica de lado. Portanto, nós defendemos também o calendário unificado
para que nós possamos estar trabalhando com mais intensidade as políticas
públicas, em especial as políticas públicas para as mulheres que só vão
ocorrer, só vão existir, só vão ser executadas, se nós, mulheres, estivermos
ocupando mais espaços de poder. E não ocupar apenas por ocupar os espaços de
poder, mas ocupar para implementar as políticas públicas necessárias para a
transformação social, para garantia de direitos, para a garantia de construção
da igualdade no Brasil. Então essa é a nossa defesa. Nós queremos nos colocar à
disposição para continuar na luta e para termos mais momentos tão
significativos como esse. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Jussara Cony): Obrigada, Anabel Lorenzi, da Secretaria das
Mulheres do PSB, que deu esse enfoque tão importante e tão estratégico no
momento que vivenciamos no nosso País e no mundo, na perspectiva de uma reforma
política que radicalize a democracia e os direitos das mulheres e do povo.
A Sra. Bruna Rodrigues, Presidente da União de
Associações de Moradores de Porto Alegre, está com a palavra no período
temático de Comunicações.
Eu chamo para assumir a presidência dos trabalhos a
colega Ver.ª Séfora Mota.
(A Ver.ª Séfora Mota assume a presidência dos
trabalhos.)
A SRA. BRUNA
RODRIGUES: Boa-tarde a todos e todas. Gostaria de parabenizar a Casa por este
grande evento, evento que para nós, mulheres, é muito importante. Gostaria de
cumprimentar a Mesa em nome da Silvana, nossa Presidente do Comdim; gostaria de
cumprimentar todas as mulheres em nome da nossa Jussara Cony, que é minha
grande Líder. Gostaria de cumprimentar também todos os homens; o Ver. João Derly,
que defendeu aqui – eu estava presente – a Campanha “Homem de verdade não bate
em mulher”. Eu gostaria de iniciar a minha fala dizendo que esse dia 8 de março
é muito importante para as mulheres de Porto Alegre, para as mulheres do
Brasil, para as mulheres do mundo; dia em que Vereadores e Vereadoras de Porto
Alegre, juntos, defendem o fim da violência contra a mulher. Gostaria de
cumprimentar também o Plenário em nome da nossa sempre Vereadora Maristela
Maffei – obrigada, Maristela, pela presença. E gostaria de dizer também que eu
não consigo visualizar, hoje, a emancipação da mulher sem homens e mulheres
juntos na luta pelo fim da violência, sem homens que abracem a causa. Vamos
para fora desta Casa levar esta bandeira e conscientizar homens de que o fim da
violência é necessário para que tenhamos uma sociedade plena e justa para
todos.
Esta é uma Casa importantíssima, a Câmara de
Vereadores, para falar em políticas públicas para as mulheres, em que, em 2011,
aconteceu a Conferência Municipal das Mulheres, quando eu inclusive fui a
defensora da escola de turno integral. Não consigo visualizar a independência
econômica das mulheres sem a escola de turno integral, para que as mulheres
consigam ir trabalhar, consigam se qualificar tendo os seus filhos seguros
quanto à educação, seguros de toda a violência que nos assombra na Cidade. Eu,
jovem e mãe como sou, não podia vir a esta Casa e não falar dessa escola
alternativa, como a Fabi já colocou aqui, que é a escola que abraça jovens
mulheres que tiveram os seus filhos cedo e que, hoje, podem voltar a estudar.
Hoje, Porto Alegre, não tem essa alternativa, e acho que esta é uma bandeira,
Jussara, que nós temos que defender, porque, sendo jovem mãe sem escola, qual é
o futuro que a gente visualiza? São poucas alternativas.
E também gostaria de salientar a luta das mulheres
por moradia. Eu, Presidenta da União das Associações de Moradores de Porto
Alegre, União que tem o objetivo de organizar as lutas do nosso movimento
comunitário, não é, Jussara? Não tem como falar na luta da mulher comunitária
sem falar em moradia, sem falar em habitação, sem falar em educação. Hoje, a
gente tem aí o Programa Minha Casa, Minha Vida, que, para as mulheres, foi um
grande salto, mas que na sua execução ainda tem problema. Na execução, na
titularidade, hoje ainda não são as mulheres que vão lá, assinam e ficam com a
titularidade da casa. Eu, há alguns dias, falava que nós, mulheres, ainda
saímos das nossas casas, não é? A Jussara, inclusive num debate de que
participei, falou muito que nós ainda saímos da nossa casa, ficamos sem a
moradia, sem o poder econômico, porque, saindo de casa, a dificuldade de
atender aos filhos fica maior ainda, a dificuldade da manutenção da casa fica
maior. Então, nós temos que pensar projetos que mantenham a mulher na sua casa,
que mantenham a mulher segura no seu ambiente social, e que tratem desses
homens. Por isso a importância de homens e mulheres juntos nessa luta.
Também não podia deixar de falar na juventude: são
homens e mulheres vítimas do crack,
que morrem nas nossas comunidades. Esta Casa, que tem o poder de fiscalizar,
que tem o poder de incorporar política pública, deve ter um olhar mais sensível
para esses jovens que estão perdendo a vida todos os dias. Todos os dias, morre
um jovem ou uma jovem na comunidade vítima do próprio crack, ou vítima da violência por causa do crack. Então, essa é uma bandeira também que nós levantamos.
Há alguns dias, nós vimos a Presidenta comemorar –
e nós também comemoramos, porque também participamos dessa luta – o número
significativo de famílias que saíram da extrema pobreza. Eu acho que avançamos
muito, a mulherada sabe o quanto nós já avançamos, mas nós precisamos dar um
passo à frente na qualificação profissional dessas mulheres, e a independência
econômica é um salto significativo para a emancipação da mulher.
Então, eu acho que qualificação profissional e um
cordão de educação em torno da mulher, é estruturante para a emancipação da
mulher.
Agradeço a todos, a todas e a esta Câmara que
trouxe este debate exemplar para esta Casa. Muito obrigada.
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Séfora Mota): Muito obrigada, falou a Presidente da UAMPA, Bruna
Rodrigues. Esta semana é uma semana muito importante. No dia 8 de março nós não
queremos apenas flores; nós queremos respeito e dignidade, independente do
tamanho da saia, da condição social, da cor da pele e da condição sexual
também. Nós merecemos, nós podemos ser o que quisermos. É isso que a sociedade
tem que entender. Mulheres lindas, plurais, isto aqui está lindo, tinha que ser
mais vezes assim.
A Sra. Silvana Conti, Presidenta do Comdim, está
com a palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. SILVANA
BRAZEIRO CONTI: Eu já fiz a minha saudação hoje à tarde e vou usar
o meu espaço da tribuna para colocar só apenas algumas questões e, depois, vou
fazer a leitura de uma carta que o Grupo Márcia Calixto me solicitou para
fazer. Então, eu gostaria que o pessoal do Multimídia se preparasse, já que irá
acontecer daqui a pouquinho. Com relação à reforma política é importante
salientar que mulher gosta, sim, de política, e mulher gosta de todas as coisas
que existem no mundo, é que, muitas vezes, nos colocam como se nós não
gostássemos. Não gostamos? Claro que gostamos; o que nos falta é ter a mesma oportunidade
dentro dos Partidos para que a gente consiga ter esse espaço de visibilidade.
Por isso que é extremamente estratégica essa questão da lista fechada e
ordenada por sexo, que seja um financiamento público de campanha, mas uma outra
questão extremamente importante que as meninas não colocaram é a questão dos 5%
do Fundo Partidário para a formação das mulheres. Isso já está posto, não é uma
novidade, mas nós precisamos fazer este debate dentro dos nossos Partidos. Todo
mundo que está aqui sabe que somos mulheres de movimentos sociais e somos
mulheres de Partido, estamos na luta por muito e muito tempo. Eu acho que essa
questão dos 5% do Fundo Partidário é estratégica. E a outra questão que eu não
posso me furtar de falar: nós somos favoráveis a todas reformas democráticas,
mas a questão da reforma da mídia também é essencial. Reporto-me, novamente, em
função do que aconteceu na nossa Cidade ontem, e não é só aqui na nossa Cidade,
isso é mais um reflexo de como a mídia nos trata. Nós queremos a construção de
uma cultura democrática, igualitária e não reprodutora de estereótipos. Isso
nós conquistamos nas nossas conferências nacionais de mulheres. Então, isso é
extremamente estratégico para nós.
Vou usar, então, por fim, a minha palavra para
fazer a leitura da carta do grupo Márcia Calixto. Por que falar em Márcia
Calixto e dar seu nome ao Centro de Referência da Saúde da Mulher da Secretaria
Municipal de Saúde de Porto Alegre? Quem produziu esta carta foi a Equipe de
Vigilância das Doenças Transmissíveis da Coordenadoria-Geral de Vigilância em
Saúde – CGVS, onde Márcia trabalhava. A carta diz o seguinte: Porque não
podemos esquecer esta linda enfermeira, que nasceu em porto Alegre em 24 de
julho de 1973, uma leonina com uma força suave e muita espiritualidade. Filha
de Elizabeth e João de Carvalho Calixto, a irmã mais velha de Rafael era
conhecida desde pequena na rua em que morava como “princesinha”, pela sua
beleza, sorriso, e cabelos loiros encaracolados. Porém, quem a via não sabia
que a vida não dava somente rosas a ela, muitos foram os momentos difíceis
passados na infância, na adolescência, que, felizmente, não tiraram seus sonhos
de um mundo mais justo, de se formar e de ter uma família. Trabalhando em
cursinho pré-vestibular, conseguiu estudar e ingressar no curso de Enfermagem
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, graduando-se em 1997 e iniciando
a sua vida profissional na Irmandade Santa Casa de Misericórdia. Em 2000, após
passar no concurso da Secretaria Municipal de Saúde, ingressou na Assessoria de
Planejamento, junto ao Programa Municipal da Tuberculose. A tuberculose foi o
que a destacou profissionalmente, e ela dominou no seu todo. Além dos aspectos
clínicos, soube de sua história, de seus determinantes sociais, sua forma de
gestão e todos os aspectos da sua vigilância epidemiológica. Ela ficou
responsável, em Porto Alegre, desde que passou a integrar exclusivamente a
Equipe de Vigilância das Doenças Transmissíveis, em 2003, da vigilância
epidemiológica da tuberculose, mostrando, em vários artigos publicados no
boletim epidemiológico, a alta incidência da doença no Município e indicando
formas de enfrentamento e de reestruturação da assistência. Especializou-se
formalmente em pneumologia sanitária, no Centro de Referência Professor Helio
Fraga – ENSP-FIOCRUZ, no ano de 2004, com o trabalho de conclusão sob o título
– Implantação da ficha de notificação da tuberculose em hospitais em Porto
Alegre/RS. No ano de 2009, assumiu a Coordenação do Núcleo de Doenças Crônicas
da EVDT e tinha, com suas colegas de trabalho, uma relação de companheirismo,
confiança e amizade. Seu empenho e dedicação a uma doença considerada
negligenciada no Brasil e no mundo foram reconhecidos pelo Ministério da Saúde,
e Márcia Calixto, foi convidada inúmeras vezes a trabalhar em Brasília, onde
participava de reuniões técnicas de Programa da Tuberculose e Vigilância
Epidemiológica, dando cursos e integrando a rede de monitoramento e avaliação
para o controle da tuberculose no Brasil. O que a fez não ir para Brasília foi
um lindo filho nascido em 6 de agosto de 2006, chamado Matheus. Uma criança que
foi muito amada desde seu nascimento. Ou melhor, antes mesmo Márcia já falava e
escutava as músicas para ele quando ainda estava em seu ventre. A maternidade a
deixou mais bela, forte e feliz. Conseguiu harmonizar o cuidado com o filho e
com seus três gatos, com um cachorrinho já velhinho, com seu trabalho, com sua
família e com sua casa assim como todas as mulheres que se dedicam a tudo o que
fazem com amor.
Praticamente ao sentir a necessidade de ampliar
seus horizontes de vida, a pessoa que deveria ser parceira, pois a acompanhava
havia 19 anos, a impediu da forma a mais brutal e violenta possível, tirando
sua vida em 25 de julho de 2012, junto com a de seu filho amado Matheus. Márcia
não acreditou nas ameaças feitas à sua vida, apesar de todas suas amigas a
alertarem para o risco quando, dias antes, referiu que, após ela ter mencionado
possível separação, seu marido disse que, se isso acontecesse, ela iria acordar
no céu. Ela não acreditou que um ser humano poderia ser tão cruel, pois ela
própria ensinara a seu filho as leis da vida, sendo a primeira lei repetida com
orgulho por ele. Primeira lei: ser feliz.
Que seus ensinamentos não sejam esquecidos, assim
como sua história; que as mulheres a conheçam e solicitem proteção quando
ameaçadas, e que possamos protegê-las; que o Centro de Referência da Saúde da
Mulher, chamado Márcia Calixto, acolha as mulheres em todos os aspectos da
complexidade que é ser mulher, mãe, profissional e pessoa humana. Márcia
Calixto, presente! Obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Séfora Mota): Muito obrigada pelas palavras.
(A Ver.ª Any Ortiz assume a presidência dos
trabalhos.)
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): Boa-tarde a todos. É com grande honra que passo a
presidir a Mesa.
A
Ver.ª Séfora Mota está com a palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. SÉFORA
MOTA: Boa-tarde novamente, quero parabenizar essas
mulheres maravilhosas que fazem um trabalho tão importante para nós, mulheres,
de valorização e de conscientização dos nossos direitos em luta daquelas que,
às vezes, não têm o mesmo conhecimento e, por medo, acabam ficando presas e
caladas, por sofrerem e por não terem pessoas e um organismo de Estado que
consiga protegê-las efetivamente. Quero agradecer a oportunidade de manifestar
o meu reconhecimento a tantas entidades, órgãos técnicos e movimentos sociais
que integram ações na defesa dos direitos das mulheres.
Eu também sou mulher e já senti na pele as dores e
as delícias de ser mulher, de ser vaidosa, de ser negra. Eu digo negra, sim; eu
sou negra loira, porque eu sou filha de negra, neta de negro, eu sou a típica
mistura brasileira de negro, índio e branco.
Vivemos numa
sociedade que nos discrimina, uma sociedade ainda extremamente machista e onde
a gente luta todos os dias por um lugar na sociedade. Compartilho a convicção
de que ainda temos um longo percurso rumo à garantia da saúde, da segurança e
do bem-estar da mulher. Estamos longe de contarmos com uma defesa pública que,
efetivamente, promova a educação, a capacitação e o apoio ao empreendedorismo
da mulher. Eu não aceito que a gente viva numa cultura em que nos limitamos a
educar as nossas filhas – as filhas de vocês, porque eu não tenho filhas – a
como se comportarem, a como se tornarem o padrão aceito pela sociedade. Não! Eu
tenho filhos homens e eu os educo para respeitarem as mulheres, para
respeitarem as diferenças e os diferentes, seja de qualquer gênero. O respeito
acima de tudo! Também é missão do pai educar, não só com palavras, pois muito
mais que palavras são as atitudes. Às vezes, os filhos da gente não querem
ouvir, mas se a gente mostrar, se a gente vai plantando aquela sementinha e
regando ela todos os dias, eles carregam aquilo dentro deles. Então, os pais
têm que assumir uma responsabilidade na educação junto com a mulher e de passar para os filhos essa conscientização de que não é a
menininha que tem que se cobrir toda, é o menininho que tem que ter o respeito.
A violência doméstica
é uma chaga social que vitima mulheres pelo mundo afora. Há países em que
mulheres são estupradas e passam de vítimas a culpadas. Nós não somos culpadas!
Nós não somos culpadas por sermos nós, por sermos femininas ou por não sermos
tão femininas. A culpa é de quem vê, não de quem é. No momento em que o
silêncio segue matando mulheres no mundo inteiro, nós somos a voz de todas as
nossas irmãs que se viram abandonadas pela sociedade, pelo Poder Público, pela
família e mesmo por si próprias.
Como Vereadora,
gostaria de expressar toda minha gratidão a todas as organizações em defesa da
mulher que têm promovido uma crescente inserção feminina na política por meio
da integração de ações coletivas e de incentivo ao ativismo social. Sabemos que
a participação política da mulher depende também da conquista de espaços nas
estruturas de poder. Isso só é possível a partir da construção de uma cultura
de empoderamento, o que não é fácil, mas a gente está lutando, a gente tem
força. Eliminar o preconceito e a segregação que estão no DNA da humanidade é
uma caminhada que começa todos os dias e não tem fim. Já avançamos bastante: 81
anos nos separam de um triste tempo de subordinação em que as mulheres não
podiam sequer votar, hoje somos votadas também; hoje, a mulher é protagonista
do desenvolvimento econômico, social e cultura de Porto Alegre, do Estado, do
Brasil e do mundo afora, assumimos importantes desafios e levamos grandes
debates que envolvem a sociedade. E devemos isso a heroínas que no decorrer da
história lutaram para que hoje eu estivesse aqui nesta tribuna.
É fundamental o papel
deste Parlamento. É muito importante o nosso papel aqui de levantar a bandeira.
Nós somos mulheres, temos homens como parceiros, e a gente tem que lutar, sim,
por uma sociedade mais igualitária, com mais respeito, com menos preconceito,
com total “não” ao machismo e com a independência da mulher, a sua valorização.
Isso é muito importante.
Da mesma forma que
somos capazes de gerar uma vida, há um novo mundo por nascer a partir da nossa
vontade, do nosso amor e da nossa força. Digo sempre que nós que somos
geradoras, carregamos os filhos no nosso ventre, nós somos as formadoras de
cidadãos e temos que mudar a maneira como educamos e como criamos os filhos
para que, quem sabe, um dia, essa luta não seja tão dura, que não precisemos
estar levantando essa bandeira. E que a mulher tenha vez e voz! Basta de
machismo, racismo, lesbofobia e qualquer tipo de preconceito. Muito obrigada.
(Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE
(Any Ortiz): O Ver. Nereu D’Avila está com a palavra no período temático de
Comunicações, e depois prossegue em Comunicação de Líder.
O SR. NEREU
D’AVILA: Sra. Presidente dos trabalhos, Ver.ª Any Ortiz, é com muito prazer que
participamos desta histórica Sessão em homenagem ao Dia Internacional da
Mulher, com a participação efetiva de toda a pluralidade de pensamento do nosso
Estado e, principalmente da nossa Cidade. Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores
(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ouvi com muita atenção as
manifestações feitas desta tribuna. É verdade que nos últimos quatro anos
estive fora da Câmara, mas, anteriormente, nunca havia, de minha parte,
observado tamanha democratização da palavra, de opiniões, de conceitos diversos
e pluripartidários, inclusive. Isso é muito importante porque estamos vivendo
um momento de plena democracia. Para pessoas como eu, como o Ver. Pedro Ruas, e
tantos outros, que lutaram inclusive contra o famoso 477, que expulsava por
três anos os estudantes que ousaram, na época da ditadura, a discordar, para
nós, hoje, ver essas novas gerações, Ver. Reginaldo Pujol, Ver. Airto
Ferronato, Ver.ª Jussara Cony, que são mais antigos, nos deixa contentes, em
razão da pluralidade, da renovação, deste Parlamento, principalmente pela
obtenção dessas oito cadeiras, o que é pouco – e ouvi as manifestações da
tribuna –, mas, como diz o ditado popular: “É melhor um olho só do que a
cegueira total”.
Também acho que diante de lideranças da nossa
Cidade é mister que se diga que, a par de terem nós, homens, solidários, como
partícipes, como companheiros nesta luta, é necessário também que essa voz
feminina chegue mais amplamente a todo gênero feminino. Como dirigente
partidário há muitos anos, inclusive presidi por três vezes o PDT em Porto
Alegre, posso afirmar que está melhorando, mas, para se fecharem as chapas com
o percentual feminino, é necessário que as mulheres também se conscientizem e
busquem mais a participação na política. Ouvi muito bem a representante do PSB,
e é verdade que às vezes, interna
corporis dos Partidos, há discriminação, sim. É outro problema, mas, como
um todo, é necessária uma maior participação feminina, e os Partidos têm de
ficar abertos a essa participação porque ela é inequívoca.
Outro dia aqui registrei os 81 anos do voto
feminino, dizendo que não foi Getúlio Vargas que num belo dia resolveu, em
1932, assinar um Decreto porque ele achou que iria ser simpático às mulheres.
Não, foi uma luta que começou na Inglaterra, com as sufragistas, veio para o
Brasil em 1910, ou seja, no século XIX, através da Lourdes, uma fantástica
lutadora nordestina, que depois foi cassada, porque teve
a ousadia de se inscrever e aí houve uma pressão tão grande que resultou no
primeiro Código Eleitoral, e, em 1932, foi concedido o voto, ainda com
percalços, não era totalmente livre. Só a Constituição de 1988 que finalmente
decretou o voto por igual. Mas essas conquistas todas vieram de longe, há
muitas conquistas ainda.
Nos últimos quatro
anos, quando estive à frente da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e
Segurança Urbana, convivi de forma mais forte do que aqui na Casa, como
Vereador anteriormente, com as vilas, com as reivindicações populares de toda a
Cidade, e fiquei impressionado com o número e com o perfil de mulheres
chefiando seus lares, lutando pelos direitos de seus filhos e vociferando por
melhores condições dos poderes públicos, principalmente para as mulheres mais
necessitadas. Tanto que os dados oficiais registram que o índice de mulheres
chefes de família subiu de 33,4%, em 2012, para 42%. Por isso – alguém de vocês
falou em escola em tempo integral – é absolutamente necessário, como dizia
Brizola: “As crianças ficariam o dia todo na escola e, quando as mães fossem
buscá-las, no final da tarde, elas estariam de barriguinha cheia”. Então, não
são somente atitudes unilaterais, é um conjunto de atitudes, conceitualmente.
E, atenta a isso, a
nossa Presidente Dilma, que saiu daqui, da Prefeitura de Porto Alegre, para
chegar à chefia da Nação, diz que agora, no Minha Casa, Minha Vida,
preferencialmente – eu diria obrigatoriamente –, será concedido para as
mulheres o documento, porque se o homem vai embora, é necessário que ela fique
assegurada, protegendo o seu lar, os seus filhos, porque é ela que vai ficar com
a guarda dos filhos. Isso vocês sabem melhor do que eu.
É necessário que
lembremos que, além da mulher brasileira, estamos falando em direitos e em
horrores. Hoje mesmo, estava lá o ex-goleiro do Flamengo confessando que
atiraram, aos cachorros, uma jovem. Essas violências todas, sim, no Brasil. Mas
é necessário que lembremos também que as muçulmanas ainda barbaramente são
violentadas e cortam seus clitóris; algo inacreditável para o mundo ocidental.
Eu quero elogiar aquelas que se referiram à reforma
política e ao conceito de financiamento público, isso é absolutamente
necessário. Saímos de um pleito, e muitos que estão aqui, que tiveram menos
votação, é porque tinham menor poder aquisitivo. É necessária essa isonomia
para que todos nós tenhamos os mesmos direitos ao pagamento das nossas
campanhas, para que não haja enormes quantidades de dinheiro que são lançadas
em campanhas, que eu não sei de onde saem.
Para concluir, na minha visão, a violência contra a
mulher é, ainda, talvez, o maior problema que se tem hoje – vejam o ato do
goleiro Bruno, que está em evidência hoje –, mas a violência não é só a dele em
relação às mulheres...
(Som cortado
automaticamente por limitação de tempo.)
(Presidente concede
tempo para o término do pronunciamento.)
O SR. NEREU
D’AVILA: ...Vou ler uma opinião do jornal Correio do Povo,
do dia 5 de março do corrente ano, porque o conjunto desses conceitos diz tudo
o que eu e milhares de pessoas pensam a respeito desse assunto (Lê.): “Mulheres
do mundo contra a violência. No mês em que se comemora o Dia Internacional da
Mulher, mais do que nunca é preciso estar vigilante para cerrar fileiras contra
todas as formas de violência que se abatem sobre elas todos os dias. Para isso,
faz-se mister a união não somente de órgãos públicos, mas também das
organizações da sociedade civil que tratam do assunto. Um desses fóruns mais
relevantes é a 57ª Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher, que
teve início nesta segunda e vai até o dia 15 de março em Nova Iorque. Para a
diretora executiva da Agência das Nações Unidas, a chilena Michelle Bachelet,
que também participa do evento, o problema tem abrangência universal. Na pauta
da comissão, marcada para o dia 15, constam estratégias a serem adotadas em
comum por homens e mulheres para combater a Aids. No Brasil, infelizmente, cada
vez mais surgem notícias de casos de maus-tratos e violência contra as
mulheres. Esse problema se repete em muitos cenários e em todas as classes
sociais. Não obstante alguns avanços, ainda há muito por fazer. Não são poucos
os casos de mulheres que se dirigem aos órgãos públicos, fazem a denúncia,
solicitam proteção e, mesmo assim, acabam sendo vítimas dos agressores, muitas
vezes pagando com a vida a falta de segurança. Mesmo que tenham sido criadas
varas especializadas, delegacias específicas, casas de proteção e outros
meios, a verdade é que essa rede ainda é insuficiente para o seu objetivo. As
medidas protetivas têm que ser mais amplas, de modo que o potencial agressor se
sinta dissuadido em seu intento. A agressão precisa ser contida de forma
repressiva e preventiva. De forma preventiva, com campanhas de esclarecimentos,
trabalhando a juventude para semear valores de respeito mútuo. De forma
preventiva, quando os mecanismos de convencimento falharem, então é a hora de o
Poder Público sancionar o autor de qualquer ato agressivo contra a mulher”.
Muito obrigado, um abraço a todas. Realmente, é uma Sessão histórica esta de
hoje, aqui na Câmara. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): Muito obrigada, Ver. Nereu D’Avila.
A Ver.ª Fernanda Melchionna está
com a palavra no período temático de Comunicações, e depois prossegue em
Comunicação de Líder.
A SRA.
FERNANDA MELCHIONNA: Ver.ª Any Ortiz, é um prazer ser presidida por uma
mulher, assim como ter esta bancada feminina e feminista hoje na Câmara
Municipal, representando os movimentos sociais e populares. Eu queria não só
agradecer a cedência de tempo do PSOL, mas também saudar, em nome do Ver. Pedro
Ruas, os poucos homens que ficaram para assistir uma Sessão tão importante,
Ver.ª Mônica Leal. Temos oito Vereadores na Sessão da tarde de hoje, e temos 28
homens Vereadores desta Casa, na maior Legislatura feminina da história da
Câmara Municipal. Então, eu quero cumprimentá-los, mas lamentar profundamente a
ausência de vários colegas na tarde de hoje.
Nós começamos este debate tão importante
homenageando as mulheres que lutaram antes de nós, as mulheres que lutaram e
permitiram que hoje estivéssemos aqui como a transferência de uma tradição de
luta por igualdade. No jornal Correio do Povo do dia 2 de março, a notícia
aquela de cem anos atrás, trazia a sufragista Sylvia, que, em Londres, naquele
dia 2 de março de 1913, foi posta em liberdade provisória, depois de fazer
greve de fome por ter sido presa, era uma sufragista e foi presa porque,
teoricamente, fez declarações insidiosas. Imaginem
o que dizia a Sylvia, em 1913: “Queremos o direito de votar, queremos o direito
de ser votadas. Queremos o pé na porta para que os nossos direitos possam mudar
o significado da história e a questão de gênero nessa tradição de igualdade”.
Queria, neste
pronunciamento, homenagear a Olympe de Gouges que, em 1793, escreveu a
Declaração dos Homens Cidadãos e das Mulheres Cidadãs e foi uma das que
protagonizou a Revolução Francesa, em 1789, que, naquele momento, derrotou o
Absolutismo, mas não conseguiu derrotar o machismo, porque ela foi degolada por
defender o direito das mulheres.
Eu queria homenagear
a Louise Michel, que se vestia de homem para dirigir as tropas durante a Comuna
de Paris, que fizeram a primeira experiência em que os trabalhadores e as
trabalhadoras controlaram a economia e a política durante dois meses em Paris.
Mas, infelizmente, a Louise Michel tinha que se vestir de homem para poder ser
ouvida. E eu queria homenageá-la, porque, nos livros de história, muitas vezes,
não vemos o nome de uma guerreira como ela.
Eu queria homenagear,
neste pronunciamento, as sufragistas, as que queimaram sutiãs, a Simone de
Beauvoir, que também foi banida depois de escrever “O segundo sexo” e, durante
muito tempo, não pode pisar em vários países por ter escrito no seu livro, uma
obra-prima, coisas que a sociedade não queria ouvir naquele momento.
Queria também
homenagear a Pagu, Patrícia Galvão, um exemplo das feministas brasileiras e
tantas outras que, ao largo da sua vida, deixaram uma tradição de lutas e de
conquistas, todas elas fruto do nosso suor, das lágrimas, da luta e, muitas
vezes, lamentavelmente, das prisões e das violências contra essas mulheres
guerreiras que nos deixaram esses legados.
E quero dizer para
vocês que os nossos desafios como mulheres, em pleno 2013, ainda seguem mais
vigentes do que nunca. As entidades trouxeram os dados da violência contra a
mulher, trouxeram que 70% das mulheres violentamente assassinadas são vítimas
dos ex-maridos, maridos, companheiros e ex-companheiros. Nós estamos prestes a
terminar o julgamento do goleiro Bruno, que fez a barbárie junto com outros
quatro homens, com a jovem Eliza Samudio. Nós estamos vendo, diante de tanta
violência, que, ainda, na Índia, a brutalidade dos casos de estupro que
acontecem com as mulheres de todas as castas, mas, sobretudo, das castas mais
pobres, e um sistema machista e repressor que, muitas vezes, condena a mulher.
Nós vimos a violência contra a jovem estudante de medicina e às outras jovens
nas aldeias, inclusive uma que tirou a própria vida porque não aguentava mais o
preconceito. Mas também no Brasil, a cada duas horas, uma mulher sofre algum
tipo de agressão sexual. Mas também no Brasil, a cada quinze segundos, Silvana,
como tu nos trouxeste, uma mulher é agredida. Mas também no Brasil, as
violências se repetem, e a rede de assistência é absolutamente – absolutamente!
– ineficiente. As medidas protetivas do Estado chegam depois da tragédia! A
maior parte das mulheres assassinadas são assassinadas depois de fazer a
denúncia nas delegacias, porque as medidas protetivas, entre as denúncias, não
garantem a vida dessas mulheres. E toda semana, nós vemos uma de nós, Séfora,
que perdeu a vida pela barbárie do machismo incrustado nesta sociedade.
E é absolutamente necessária, não só a nossa luta,
não só o nosso pé na porta, mas a independência, a autonomia dos movimentos,
independente dos Partidos, porque esta causa é uma causa de gênero, de
humanidade, de direitos, de conquistas, para falar dessas barbáries, mas,
sobretudo, cobrar que haja políticas públicas para minimizar e ajudar na
mudança, que é fundamental do ponto de vista político, econômico e cultural.
E por isso é que o tema da reforma política é muito
importante, e é parte da nossa discussão, uma parte fundamental, porque, apesar
de sermos 50% das mulheres, ainda somos 11%, em média, nos Parlamentos; porque,
apesar de as mulheres serem 50%, nós apenas em 2010 tivemos a eleição da
primeira mulher Presidente. E, independente da nossa postura de oposição, é
evidente que é um enorme avanço histórico uma mulher ser a Presidente do nosso
País. Mas um avanço histórico que deveria significar que houvesse mais recursos
para a Lei Maria da Penha, mas, infelizmente, o Governo Dilma gasta mais de 50%
do Orçamento para pagar a dívida pública para os banqueiros, e menos de 0,05%
para executar a Lei Maria da Penha.
Que as decisões das conferências nacionais sejam
executadas, que tem a ver com os direitos reprodutivos, com o aumento da rede
de assistência, que tem a ver com o combate à violência, que tem a ver com o
combate à homofobia. Mas, infelizmente, a política de governabilidade, em
geral, é para passar reformas que atacam os trabalhadores, como foi a Reforma
da Previdência, que fez com que as mulheres trabalhassem mais para poder se
aposentar, esse tipo de ações que atacam direitos, que precisam de
governabilidade, mas que custam caro no que diz respeito a políticas públicas.
Não é à toa que nem hoje, em pleno 2013, a questão
do aborto para anencéfalos seja uma Lei, que é o mínimo, quando estamos falando
em risco de vida para as mulheres que portam um bebê,
lamentavelmente, morto dentro de si. A governabilidade, que impõe o Renan
Calheiros, Presidente do Senado, um dos corruptos mais conhecidos na História
do Brasil, é a mesma governabilidade que faz um Marco Feliciano ser Presidente
da Comissão de Direitos Humanos no Congresso Nacional, que diz que “Aids é um
câncer gay”. “Aids é um câncer gay”, diz o Presidente da Comissão de Direitos
Humanos. Deveria estar preso por homofobia, e não estar sentado na presidência
da Comissão de Direitos Humanos. Ele diz que “Africanos descendem de ancestral
amaldiçoado de Noé”; e esta governabilidade botou um Marco Feliciano lá.
Portanto, é
fundamental defender a independência e a luta dos movimentos; é fundamental
defender a unidade e, cada vez mais, o fortalecimento na área das nossas lutas
para que a gente possa, de fato, colocar o pé na porta.
Ontem foi um belo
exemplo, Silvana, de todos os movimentos: uma campanha retrógrada e machista
saiu do ar, graças à luta das mulheres e daqueles que acharam uma piada
comparar o problema das mulheres a uma unha quebrada. Sinceramente, cada uma de
nós pinta a unha da cor que quiser, ou da cor que não quiser; mas só uma mulher
sabe o que é ser violentada e não ter para aonde correr; só uma mulher sabe o
que é chegar numa delegacia, no Interior, e ter um homem para atender na frente
de todo mundo, com o olho roxo, cheia de vergonha, depois de ser agredida e
violentada, e não ter nenhuma condição de sair da sua casa; só uma mulher sabe
o que é ser estuprada, violentada, ou colocar uma roupa e ter que ouvir na rua
que foi ela que pediu, porque a saia era curta; e por isso é que tem a “marcha
das vadias”, e por isso é que existe uma série de lutas, mundialmente, de gente
que ocupa as praças, que ocupa as ruas, para dizer que o corpo é da mulher e
ela veste o que ela quiser, namora quem ela quiser, e faz do seu corpo o que ela
bem quiser.
Então, quero concluir
a nossa homenagem pelo 8 de Março, dizendo que esta data de luta é um dia
fundamental da nossa história, da nossa memória e, certamente, para o nosso
futuro. Como dizia Patrícia Galvão: “O crime de ser coerente cometerei sempre”.
Parabéns, e boa luta! (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
A SRA. PRESIDENTE (Any Ortiz): A Ver.ª
Mônica Leal está com a palavra para uma Comunicação de Líder.
A SRA. MÔNICA LEAL: Boa-tarde, Sra.
Presidente, Ver.ª Any Ortiz, presidindo nesta tarde extremamente importante
para todas nós, Vereadoras e convidadas; em seu nome, cumprimento a Mesa, e
quero aqui fazer o registro de que, neste momento, já temos dez Vereadores,
Fernanda; de oito, passamos para dez, já é um avanço, e, aos poucos, os
Vereadores estão chegando para nos ouvir.
São tantos os assuntos... Para falar sobre essa
questão da mulher, eu acho que eu precisaria de muito tempo. Eu tenho uma
opinião formada, e não é de hoje: o Brasil caminha a passos largos para a
efetiva presença das mulheres nas mais diferentes áreas de comando, na
economia, educação, saúde, mas ainda, no entanto, na política, é muito acanhada
a presença das mulheres. E é uma dura luta, nós sabemos, e aí escutando a fala
de todas – e todas as mulheres que falaram aqui nesta tribuna me acrescentaram
algo importante, mas especialmente por ser da minha área da comunicação e
política, eu escutei a representante da Secretaria Estadual das Mulheres do
PSB, Anabel Lorenzi, e comungo desse sentimento, porque essa é uma dor que
tenho. A caminhada política para nós, mulheres, é muito difícil, a começar pela
situação dentro de casa. Uma mulher sair para fazer campanha como Deputada
Estadual, viaja por este Rio Grande afora, pela situação cotidiana, deixa
filho, administra casa, marido... E outra, pessoal, aqui, nenhuma de nós, em
que cargo estiver, em que profissão atuar, consegue trabalhar direito se seus
filhos não estiverem bem, e por aí passamos pelas políticas públicas, por
creches, por capacitação. São “n” as questões sobre as quais eu poderia aqui
discorrer.
Mas eu, mais uma vez, quero fazer um registro,
saindo da política – e aí vem a área de jornalista: me chamou atenção que nesta
manhã saiu uma matéria muito interessante, registrando que o trabalho cresce
apenas entre as mulheres, em 2012, na Capital, em Porto Alegre. Mas não fiquem
tão felizes assim, porque, por outro lado, vem uma triste notícia: assim como
cresceu o trabalho, o número de mulheres que estão
trabalhando, mesmo crescendo em número entre os trabalhadores, as mulheres
seguem com remuneração inferior a dos homens. Aí é brabo, dá um desânimo
danado, porque a gente se puxa, trabalha, se capacita e ganha menos. Ainda
estamos nessa luta, e já venceu o tempo. É mais um registro que eu queria fazer
em função de tudo o que estou falando aqui da política, da capacitação, das
políticas públicas.
Quero fazer um
registro de que há um projeto de emenda constitucional tramitando no Senado e
que assegura que tenha pelo menos uma mulher na Mesa Diretora e nas Comissões Permanentes
daquela Casa. Bem, como a tramitação lá é muito demorada e como hoje estamos
aqui falando de políticas públicas para mulheres, nada mais correto do que a
gente faça a lição de casa, que comece por esta Casa o exemplo. Nós somos oito
Vereadoras, temos uma Mesa, temos seis Comissões e nós poderíamos estar em
todas. Então, eu entrei com um Projeto que altera a redação e acrescenta
parágrafo no Regimento, assegurando, tanto quanto possível, a representação
proporcional de cada sexo dos integrantes desta Casa, assegurando, pelo menos
uma vaga para cada sexo em cada mandato. O quero dizer com isso é que está na
hora de nós mulheres sairmos da casca, puxarmos mais mulheres para fazer
política, de nos representarmos, de nos fazermos presentes em todas as Casas
Parlamentares e, principalmente, apoiarmos mulheres nessa luta, que é dura, que
é uma campanha política. Eu sou, sim, favorável ao financiamento público, à
reforma política. Não há nada mais duro do que pedir dinheiro para fazer uma
campanha. Obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela
oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): A Ver.ª Lourdes
Sprenger está com a palavra no período temático de Comunicações.
A SRA. LOURDES SPRENGER: Ver.ª Any
Ortiz, que preside esta Mesa, ativistas, representantes da defesa das mulheres,
Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores e público presente; muito já foi dito hoje à
tarde, mas eu vou me comunicar com vocês sobre a nossa atuação na área
política. Nos últimos cem anos, a mulher ousou, superou preconceitos e rompeu
barreiras. A mulher não era considerada cidadã política, não tinha espaço na
esfera pública, no mundo econômico, social ou cultural. E nesses espaços,
mulheres brasileiras, em especial, foram revertendo diferenças: começaram a
militar na política, a conhecer e vivenciar práticas partidárias, a tomar parte
nas composições do poder político. Foram passos definitivos que inseriram a
mulher na vida pública, até que se deu a aprovação da política de cotas. A nova
legislação impulsionou ainda mais a participação da mulher na política.
Primeiro, se garantiu 20% das vagas, depois se ampliou para 30%, observando 70%
de candidatura de cada sexo. É a cota para as mulheres, uma regra para homens e
mulheres que buscam espaços de participação no poder nas listagens partidárias
de cada pleito. E hoje, graças a esses e outros avanços, as mulheres
conquistaram, embora ainda seja um número pequeno, 12,1% das Prefeituras de
todo o País. Hoje, as mulheres comandam 663 cidades brasileiras, ampliando a
participação e contribuindo da mesma forma que o homem para o desenvolvimento
das cidades, influenciando na busca de ideais, de igualdade e de justiça. E
hoje, nas Casas Legislativas municipais do Brasil, o avanço feminino também é
notável. No ano passado, as mulheres conquistaram 7.648 cadeiras de vereança em
todo o País, representando 13,3% das vagas. Não há mais quem diga que o eleitor
discrimina a mulher, ou que mulher não vota em mulher.
Pouco a pouco, Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras, os Partidos políticos começam a se abrir para as expressões femininas, sua vocação para a liderança e sua capacidade eleitoral. Os tempos mudaram – e como mudaram! –, mas não tanto como gostaríamos. Hoje vivemos um processo irreversível de consolidação da inserção feminina na vida política das comunidades do Estado e da Nação. Neste contexto de ascensão da mulher, cabe destacar o pleno desempenho de sua vocação para o voluntariado por intermédio da ação de ONGs e entidades inseridas num vasto leque de atividades sociais. Entre elas, tem destaque a causa animal, que é a minha causa, de especial predileção da mulher que se desdobra na atividade de protetora, como vigilante 24 horas por dia. O voluntariado ligado à causa animal é indispensável para realizar tarefas e atendimentos urgentes...
(Som cortado automaticamente por limitação de
tempo.)
(Presidente concede tempo para o término do
pronunciamento.)
A SRA. LOURDES SPRENGER: ...cobrindo lacunas deixadas pelo setor público.
Mesmo com tantos compromissos e atividades, a mulher não abriu mão de cuidar da
família, de estudar, de se aperfeiçoar profissionalmente, e de dividir uma
intensa jornada com o seu parceiro. À medida que amplia a participação social e
conquista espaços, a mulher afugenta preconceitos e se torna uma protagonista
dos novos tempos, se opondo ao racismo, à violência e à exclusão social. Por
isso que o papel da mulher na relação com o poder político está se revelando, a
cada dia, emblemático, digno, criador e sublime. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): Muito obrigada, Ver.ª Lourdes.
A Ver.ª Luiza Neves está com a palavra no período
temático de Comunicações.
A SRA. LUIZA
NEVES: Quero saudar, na presidência dos trabalhos, a Ver.ª Any Ortiz, todas as
nossas representantes da Mesa, Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores, todos aqueles
que nos assistem, os que nos assistem pela TVCâmara também; quero aqui apenas
registrar a importância desta tarde, de todas as lutas sobre as quais nós
ouvimos aqui, de todas as reivindicações, de todas as lutas justas por um mundo
melhor para que a mulher ocupe, cada vez mais, o seu lugar de direito. Não que
ela venha tirar o lugar do homem, mas que ela venha sim, cada vez mais,
adquirir o espaço que é dela de direito. E eu quero falar para vocês, nesta
tarde, da importância hoje de fazer parte desta Legislatura, que tem oito
mulheres; eu gosto de frisar muito isso, é uma das maiores Legislaturas
femininas. Para mim, há um motivo bem maior, há um motivo de emoção, que é o
fato de fazer parte desta Casa Legislativa neste ano, nesta Legislatura; aqui
eu já trabalhei, há anos, por oito anos. E, ao voltar a esta Casa, eu volto com
um sentimento de luta, de luta pela mulher, de luta pela igualdade, de luta
pelo crescimento. Nós ouvimos tantas falas nesta tarde – a Ver.ª Mônica aqui
falando, a Ver.ª Lourdes, a Ver.ª Séfora. As falas que ouvimos aqui são de
peculiaridades de cada uma. Cada uma de nós sabe, sim, o que é ser mulher, sabe
o que é ter dupla jornada, tripla jornada; chegar em casa à meia-noite, depois
de ter feito tanta coisa e saber que, no outro dia, tem que levantar cedo, dar
conta da casa, deixar tudo limpo e botar roupa para lavar; todas nós sabemos
disso. Mas existe a luta maior, que é a luta contra a discriminação, que é a
luta da violência feita contra a mulher; e é essa luta que nós estamos aqui
para defender. Falei, anteriormente, na Tribuna Popular, sobre a frente
parlamentar que estamos instalando nesta Casa, que visa a eliminar todo tipo de
preconceito e violência contra a mulher, porque nós sabemos o que é sentir
preconceito. Nós, mulheres, que enfrentamos uma eleição agora, Silvana, tu
sabes disso! Nós sabemos a discriminação que a mulher sofre, sim, numa eleição,
num período eleitoral. Nós sabemos tudo o que nós temos que provar diariamente
para estarmos neste lugar. Eu não estou aqui por acaso, eu não fiz uma votação
que me trouxe a esta Casa Legislativa por pura sorte. Eu tive que batalhar
muito, eu tive que provar que eu era capaz, que eu tinha condições, mesmo sem
dinheiro, mesmo sem condições financeiras, lutando contra tudo e contra todos.
Eu provei diariamente, e todas nós, mulheres, sabemos o que uma mulher tem que
fazer para dizer que quer ser Vereadora por ter projetos, por ter objetivos,
por ter metas. É por isso que estou aqui nesta Casa.
Neste dia em que homenageamos a mulher, eu quero me
somar a todas essas lutas, a todas essas mulheres que têm causas definidas,
causas específicas, causas justas, para dizer que nenhuma de nós está só, nós
estamos juntas e quero me somar a todas as lutas para que, quem sabe, no ano
que vem, possamos estar aqui comemorando. E que esta pauta de hoje sobre as
políticas públicas, sobre esse sistema de cotas para as mulheres seja
aumentado, seja melhorado e que nós venhamos a ter, sim, no ano que vem,
motivos para estarmos aqui comemorando e não apenas reivindicando. Muito
obrigada e que Deus abençoe a todos. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE (Any Ortiz): Muito
obrigada, Ver.ª Luiza Neves.
A
Ver.ª Jussara Cony está com a palavra no período
temático de Comunicações.
A SRA. JUSSARA
CONY: Primeiro quero dizer que eu tenho a maior honra de
ser presidida pela Vereadora mais jovem desta Casa – esta que fala não é a
Vereadora mais experiente, é a Vereadora mais velha desta Casa. (Palmas.)
Porque senão eu parto do princípio de que os jovens não têm experiência, e eu
acho que cada um de nós, no seu tempo histórico, na sua luta e no seu caminhar,
adquire experiência para, coletivamente, construir as transformações. Então,
estou muito honrada de estar aqui, neste momento, na tribuna e tendo como
Presidenta de uma Sessão como esta, todas que passamos por ali, a Any Ortiz.
Eu tenho um Grande Expediente hoje, e não vou
fazê-lo agora, até pelas atividades de todos. O Ver. Engº Comassetto – e aí eu
acho que é importante dizer que sempre é bom ter homens como aliados
estratégicos da nossa luta e aqui tem muitos – me ofereceu o Grande Expediente
de hoje e só daqui a dois meses – ontem à tardinha ele me ligou – é que ele
usará o Grande Expediente que é meu. Talvez por eu ser a mais velha, mas achei
um gesto político e amigo, porque política se faz com razão e emoção, se faz
com respeito, com amizades, com relações humanas.
O João Derly me deu
uma tarefa importantíssima de eu fazer uma homenagem a Luiza Gutierrez Oliano,
judoca do Grêmio Náutico União, uma menina de 16 anos, deficiente visual, convocada
para a Seleção Brasileira Paralímpica para um período de avaliação. A Luíza já
conquistou duas medalhas de ouro no Grand Prix de Judô para cegos, realizado em
Belo Horizonte, nas categorias sub-17 e sub-20, cujo objetivo, naturalmente,
são os Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de janeiro. Eu acho que essa é uma
importante homenagem. (Palmas.)
Mas eu falarei algumas outras coisas no Grande
Expediente. Agora, eu estou querendo lembrar rapidamente aqui que a nossa luta
histórica, a luta histórica das mulheres brasileiras e do mundo, é a história
de guerreiras, rompendo as barreiras, as cadeias da dominação e da opressão, da
discriminação, desse peso secular da opressão social, política, econômica,
cultural e, inclusive familiar. Vai muito longe o tempo em que a Simone de
Beauvoir – vai muito longe, Fernanda – a iniciar a sua obra, “O Segundo Sexo” – olha o nome, já para chamar a atenção, “O Segundo Sexo” –, ela
dizia ter hesitado muito em escrever um livro sobre a mulher e perguntava-se:
em verdade, haverá mulher? O que é uma mulher? Rompida a hesitação inicial pelo
arrojo da Simone de Beauvoir e aquela sua corajosa abordagem, muito tem sido
escrito, elaborado, discutido sobre essa questão da mulher, essa metade do
gênero humano, uma pouco mais da metade. Na realidade, a gente não nasce
mulher! A gente é feita mulher em determinadas condições políticas, econômicas,
sociais, culturais. A gente não nasce homem; a gente é feito homem também
nessas determinadas circunstâncias.
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): A Ver.ª Jussara Cony prossegue a sua manifestação, a partir deste momento, em Comunicação de
Líder, pela oposição.
A SRA. JUSSARA CONY: Quero, neste momento,
fazer uma homenagem muito especial. Estão aqui as minhas companheiras, pois
daqui a pouco vamos estar “poetando” nesta Casa, não é? Nos somos todas
lideradas por aquela mulher maravilhosa, que é a Zaira Cantarelli, do Grupo Viva Palavra, grupo de poesia. (Palmas.) Nós
vamos estar, em alguns momentos, nesta Casa e amanhã, inclusive, no Madre
Pelletier, porque a poesia embala o mundo, a poesia faz transformações, as
palavras fazem transformações. Agora, daquele pioneirismo da Simone de Beauvoir
aos dias de hoje...
O que está colocado mesmo para nós, mulheres
brasileiras e do mundo, nós, o povo brasileiro, que elegemos uma primeira
mulher presidenta? É aquela famosa história: o que fazer? Porque nós já
“dançamos” muito. Nós conquistamos... Nós acumulamos muito em lutas, e nós
acabamos, nessas lutas todas, acumulando certezas, certezas que são valiosas
contribuições para uma sociedade justa e igualitária. Quando nós estamos
exigindo saúde integral para nós, afinal de contas, nós estamos exigindo para
nós, ou nós estamos exigindo para toda a sociedade? Quando nós enfrentamos a
violência, nós dizemos de todas as formas, porque a sofremos, de que a
violência é uma questão de Saúde pública. Porque tem as mais sutis formas de
violência. Tem aquela que deixa marcas no corpo, mas tem uma outra que deixa
marca na alma! Essa não sai nunca mais. E essa é escamoteada. Eu acho que ontem
eu sofri uma violência, porque eu fui reduzida; eu, um monte de mulheres, nós
fomos reduzidas na nossa luta histórica. Mas há a certeza também – segundo
Eliete Safioti – que essa sociedade que não nos admite no Poder político é a
mesma que, para se manter, domestica todos, homens e mulheres. Domestica como
classe, como gênero, como etnia, como raça, como orientação sexual. E por aí se
vai. Essas certezas a mim fazem lembrar Marx, quando ele diz: “As
transformações sociais nunca se realizam graças à fraqueza dos fortes, mas
sempre graças à força dos fracos” – dos ditos fracos, dos feitos fracos por uma
sociedade discriminadora.
Pois bem, eu acho que a sociedade brasileira, nós,
que elegemos um operário, o reelegemos, estamos aí construindo um projeto de
desenvolvimento desta Nação, que elegemos a primeira mulher Presidente – e aí
tem uma história que nós temos homens e mulheres; não basta ser mulher. Não
basta ser mulher! Tem que ter lado! Tem que ter história! Tem que ter
construção! E a história nossa quem faz somos nós mesmas! Essas oito mulheres
que estão aqui estão fazendo a sua história; essas mulheres que estão aqui, que
representam os segmentos da sociedade, mulheres de luta, as mulheres que fazem
poesia, nós estamos fazendo história, somos nós que estamos fazendo história!
Agora há um desafio. Nós já acumulamos bastante para saber que é importante,
sim, para os fortes, através das mais sutis e cruéis formas, nos tornar
fraquinhos, nos tornar fracos, nos tornar dependentes. Eles nos adoecem, nos
expropriam do trabalho, da cultura, da educação, da saúde, das emoções. Tentam
nos expropriar dos nossos corpos, das nossas vidas! Nos expropriam, inclusive,
dentro dessa nossa história, tentando nos reduzir a unha, a bolsa, a chocolate
e a outras coisas mais que não dão a dimensão da história e do significado das
mulheres, lado a lado com os homens que querem as transformações! Então, essa
sociedade ainda patrocina, no cotidiano, nas nossas relações, um choque muito
violento entre a nossa história individual, cheia de projetos, de desejos, de
vontade, prazerosamente, de viver a nossa vida, com esperanças, e uma
organização do trabalho, companheiras, que a tudo isso ignora. Para o
capitalismo, nós somos as reprodutoras e mantenedoras da força do trabalho! Não
precisa política de atenção integral à saúde da mulher. Nós temos que
reproduzir e manter a força do trabalho. E é lá nesses espaços da reprodução,
da manutenção, da força do trabalho, ou seja, no quarto e na cozinha, que nós
sofremos os mais cruéis ataques da violência!
Quero finalizar dizendo que nós precisamos de uma
reforma política! Para mudar, precisa muita coisa, vocês todas já disseram.
Agora, reforma política é estratégica, porque essa reforma tem que radicalizar
a democracia! Ela tem que ir a fundo nas questões do nosso País, para não
acontecer o que aconteceu ontem, na Câmara Federal, que a Fernanda disse muito
bem aqui! Ontem, nós protocolamos aqui, com a assinatura de todas as Bancadas,
a Frente Parlamentar pela Reforma Política. E eu quero convidar todas as
companheiras e tantas outras para serem parte fundamental dessa reforma.
Eu quero que as minhas filhas, os meus filhos, os
meus netos, as próximas gerações, passem do reino da necessidade para o reino
da igualdade! Talvez como possa dizer o saber feminino construindo, há tanto
tempo, há milênios, pacientemente, para um mundo onde a gente possa viver as
nossas maravilhosas diferenças na igualdade. Quem sabe, como diz a poesia que
agora eu quero oferecer a essas mulheres: “Mulher. Sou feita de tudo!/ De
músculos e ossos,/ hormônio, sangue, cérebro/ E coração.../ De pernas e
braços,/ A andar, a trabalhar, a construir./ De mãos que acenam,/ Dão, recebem,
buscam o pão./ De pés ágeis,/ Às vezes cansados do imenso andar.../ De olhos
abertos/ Buscando o mundo./ Fechados na emoção, no riso/ E na beleza do
amor.../ Sou feita da boca que cala/ Ao balbuciar da criança,/ À sabedoria dos
velhos,/ À rebeldia da juventude. E da boca que escancara/ Frente à injustiça e
à opressão. E que murmura cantigas/ De ninar e não nega o beijo./ Sou feita de
medos e incertezas/ E de muita coragem e esperança./ Sou feita de útero
explodindo/ Vidas pra transformação./ E de seios fartos/ Do leite da criação./
Sou feita de buscas.../ Dos direitos, do trabalho,/ Da terra, do pão e/ Da
liberdade!/ Sou feita do amor,/ Sou feita da humanidade!”
Isso são as mulheres! (Palmas.)
Retiro-me desta tribuna, agradecendo o espaço a
mais, e dizendo que a gente vive novos tempos, mas não menos instigantes do que
os já vividos. E vamos nessa caminhada histórica das mulheres construir uma
nova sociedade. A que eu acredito é a sociedade socialista. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Any Ortiz): Muito obrigada, Ver.ª Jussara. Gostaria de
convidá-la, por ser a nossa Vereadora mais velha, a ocupar o lugar da
presidência para eu poder fazer a minha manifestação.
(A Ver.ª Jussara Cony assume a presidência dos trabalhos.)
A SRA.
PRESIDENTE (Jussara Cony): Pessoal, vamos assumir: a velhice é uma coisa
linda. É acúmulo. Sou a Vereadora mais velha; não me chamem de outra coisa, por
favor!
A Ver.ª Any Ortiz – Vereadora mais nova –, e a
Ver.ª Fernanda Melchionna têm a mesma idade, são meses de diferença.
A Ver.ª Any Ortiz está com a palavra no período
temático de Comunicações.
A SRA. ANY
ORTIZ: Muito obrigada. Quero, primeiro, parabenizar todas as mulheres que
estão aqui nesta Mesa, uma Mesa linda, florida, assim como as nossas mesas
estão hoje. Muito obrigada pelo presente, Ver. Tarciso Flecha Negra. Eu queria,
na verdade, colocar mais um pedacinho neste debate que está acontecendo aqui
hoje; acho que todas as Vereadoras e as oradoras de hoje já trouxeram muito do
que são as mulheres, do que foram, das suas lutas e suas conquistas. Parabéns
também à Ver.ª Fernanda pelo lindo discurso que fez aqui. Vou ler um texto que
é da Karoline Genova, que fala muito sobre o que é a criação da mulher, da
criança, adolescente, até a fase adulta. Antes, faço uma observação: eu vim
aqui com o adesivo da Liga Brasileira de Lésbicas, porque eu penso que não é só
da Liga o “Basta!”, mas é um basta para todo tipo de violência contra a mulher.
Coloquei o adesivo aqui para que fique divulgada essa nossa manifestação.
O texto da Karoline Genova diz o seguinte: Desde o
início dos tempos, a mulher já tem sua imagem marcada como a de sexo frágil,
sujeito ao pecado e à falta de liberdade e de independência física. Vista como
um simples objeto de reprodução, pois era considerada incapaz para o trabalho,
a mulher foi submetida e subjugada por uma sociedade machista que se estende
pelos séculos. Desde meninas somos educadas para o que seria o nosso destino
por obrigação: saber limpar a casa, cozinhar, passar, cuidar das crianças...
Enquanto isso, vemos nossos primos e irmãos brincando e sendo educados a serem
os provedores da casa. E quando é feita a pergunta: por que ele não ajuda
também? Ouvimos sempre a mesma resposta: porque ele é menino! Na adolescência a
diferença é quase um tapa na cara: as meninas são ensinadas a zelar por imagem,
pois por qualquer coisa pode ficar falada, enquanto os meninos são o orgulho
para os pais se têm três ou quatro namoradas. Quando o assunto é sexo, a coisa
piora: dificilmente você vai ver uma menina saindo para a balada e ouvindo os
pais dizerem: “se diverte, minha filha, e não esquece da camisinha, viu?”
Agora, se for um menino, os pais até compram o preservativo. Se a adolescente
fica grávida é um desastre, é acusada de desonrar a família, muitas vezes é
julgada como uma qualquer, e, nos piores casos, e não tão raros, é até posta
para fora de casa. O tempo vai passando e essa mulher, agora adulta, tem de
enfrentar de frente seus problemas e responsabilidades numa sociedade que por
muitas vezes leva ainda o pensamento machista de que a mulher só serve para
ficar em casa cuidando dos filhos. O pior de tudo é que, enquanto tem mulheres
que lutam contra esse preconceito, e aqui temos esse exemplo, tem outras tantas
que acham esse comportamento natural.
Ainda hoje muitos homens se recusam a serem
subordinados a mulheres que, no mercado de trabalho, chegam a ganhar até 30%
menos do que os homens, apesar de terem o mesmo cargo e cumprirem as mesmas
funções. Esses homens têm a visão de que o lugar das mulheres é no tanque e não
na presidência de uma empresa, ou na Presidência da República, por exemplo.
Muitas de nós estão na luta para diminuir os preconceitos; e esse preconceito
que devemos enfrentar não é só dos homens machistas, mas também o nosso
preconceito, no sentido de conscientizar as mulheres de que nós temos
capacidade e inteligência de sobra para cuidar e administrar coisas que vão
muito além da casa e dos filhos. Não podemos ter medo de viver; temos que ir à
luta, temos que enfrentar nossos medos e receios, mostrar toda nossa
capacidade, porque, sim, somos boas, e eu diria que somos as melhores. Muito
obrigada.
(Não revisado pela oradora.)
A SRA.
PRESIDENTE (Jussara Cony): O Ver. Ver. Alberto Kopittke está com a palavra no
período temático de Comunicações.
O SR. ALBERTO
KOPITTKE: Boa-tarde a todas e a todos que estão aqui na Câmara; quero saudar essa Mesa de lideranças feministas que a nossa Casa tem a
honra de receber e que, como está sendo muito bem dito, além de serem mulheres,
têm a coragem de lutar contra todas as formas de opressão que sofrem no dia a
dia; quero saudar a todas as colegas Vereadoras, que fizeram falas belíssimas e
memoráveis – a Jussara, de quem sou fã incondicional, e também a Silvana, pela
presidência do nosso Conselho Municipal –; e quero saudar a todas as colegas.
Hoje é um dia triste
para aqueles que militam pelos direitos humanos, como já foi dito aqui, porque
o fato de um parlamentar assumidamente homofóbico, lesbofóbico e racista
assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal é um
grande retrocesso. Dialogando com a companheira Fernanda, isso não se deveu
hoje à governabilidade. Porque no dia de hoje todos os Deputados do PSOL,
PCdoB, PT e PSB se retiraram da Câmara, da Comissão de Direitos Humanos, e não
irão retornar para a Comissão. O que o dia de hoje nos demonstra, Fernanda, é
que nós, que lutamos por um outro mundo, temos que estar mais unidos. Algumas
pautas têm que nos unir acima das disputas, e, isso, o Jean Wyllys, o Nilmário
Miranda, a Luiza Erundina souberam fazer hoje. E é por isso que todos nós aqui
lutamos, porque senão nós corremos o risco de retroceder nas conquistas feitas
nesses dez anos.
Mas eu quero tratar
rapidamente do tema que é objeto do meu mandato aqui, que é a luta contra a
violência. O nosso País precisa se dar conta que nós só venceremos a violência,
nós só deixaremos de ser o País com o maior número de mortos por homicídio do
mundo no dia que nós vencermos todos os preconceitos, e, de uma forma muito
especial, no dia que nós vencermos o machismo. Porque a violência contra a
mulher é a mãe de todas as outras violências; é dentro do lar, da opressão que
a mulher sofre dentro de casa, é dessa relação de violência que se espalha toda
a relação de violência que nós vemos hoje pelas nossas ruas. E é por isso que
nós temos cinco mil mulheres mortas por ano no nosso País. E esse número só
sobe. Nós não temos muito o que comemorar, infelizmente, independente de
Governo. A Lei Maria da Penha foi um grande avanço, mas nós temos muito que
avançar para que ela se torne efetiva na vida da população do nosso País.
Apenas 10% das cidades do Brasil têm delegacias especializadas para mulheres,
por exemplo. A nossa Cidade mesmo, que é conhecida pelas suas lutas, pelos seus
avanços – neste 8 de março está sendo conhecida nacionalmente, infelizmente, de
forma negativa e vergonhosa – ainda tem muito que avançar.
Eu quero aqui apenas listar, em razão do tempo,
pontos muito concretos; e que o Prefeito Fortunati tenha a oportunidade de
avançar nesses quatro anos, ele terá todo o nosso apoio: a criação de uma casa
de passagem na nossa Cidade, diferente da casa-abrigo, que é um outro
equipamento, e que as mulheres possam lá estar de 24 até 72 horas, até a medida
protetiva ser cumprida; a criação de um centro de tratamento do homem agressor,
pois não adianta apenas colocá-lo dentro do Presídio Central. Hoje, temos 140
homens presos no Presídio Central, pela Lei Maria da Penha – eu chequei esse
dado hoje pela manhã. Então, o que fazer com esse homem? É preciso criar também
esse equipamento previsto na Lei, assim como é preciso expandir o horário de
atendimento do nosso Centro de Referência, fortalecendo-o, capacitando os
recursos humanos, ampliando a casa-abrigo nos finais de semana para que ela
possa receber mulheres nos finais de semana. E o registro, cara Jussara, no
sistema de saúde, da implantação do Viva, para que todo ato de violência
identificado por um agente de saúde no Município seja efetivamente registrado. Hoje,
apenas 25% dos estabelecimentos da Cidade estão capacitados para fazer o
registro de violência no Viva, no sistema do SUS.
E o Estado também tem demandas: a implantação da
Delegacia da Mulher na Restinga – e nós estamos lutando para que o Governador
Tarso implante isso; e o fortalecimento da Patrulha Maria da Penha, que já é um
importante avanço e que hoje recebeu três novas patrulhas.
Muito rapidamente sobre a reforma política, eu
trago aqui a posição do meu Partido em nível nacional: nós defendemos lista
fechada, porque a democracia não é feita de pessoas, ela é feita de Partidos, e que, pela lista fechada, nós tenhamos a paridade de 50% homens e 50%
mulheres, de forma igual, como somos iguais na sociedade. Um grande abraço, e
vamos seguir lutando por uma sociedade mais justa, mais igual e sem machismo.
(Palmas.)
(Não revisado pelo
orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Jussara Cony): A gente tem a
honra, agora, de passar os trabalhos para o nosso Presidente, Ver. Dr. Thiago,
que iniciou, ficou uma boa parte da cerimônia aqui conosco, teve que atender a
várias questões relativas à Mesa Diretora, em seu cargo de Presidente, e agora
retoma os trabalhos para os momentos finais deste momento tão importante na
Câmara Municipal. Agradeço, em nome de todas as mulheres e dos homens desta
Casa, a sensibilidade do nosso Presidente para esta Semana da Mulher, inédita
na sua dimensão política. (Palmas.)
(O Ver. Dr. Thiago
assume a presidência dos trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Thiago): Quero dizer
que escutei com muita atenção todos os pronunciamentos aqui, e, sem dúvida
nenhuma, todos colaboram bastante com o nosso processo político.
Eu e o Ver. Pedro
Ruas acabamos recebendo aqui o Fórum pela Paz na Colômbia, que vai se realizar
nos dias 24, 25 e 26 de maio, em Porto Alegre, e, sem dúvida nenhuma, esta Casa
se dispõe a acolher todos que lutam pela paz.
O Ver. Engº Comassetto está com a palavra no
período temático de Comunicações.
O SR. ENGº COMASSETTO: Muito obrigado, Ver.
Dr. Thiago, eu venho aqui em nome do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores,
em primeiro lugar não só trazer uma homenagem ao Dia da Mulher, mas nos
aliarmos à fala que todas vocês fizeram nesta tribuna, pois o dia da mulher e o
dia do homem, num princípio de igualdade, são os 365 dias por ano. Eu quero
iniciar aqui trazendo um abraço carinhoso a todas as colegas Vereadoras: nossa
colega Any Ortiz, Fernanda Melchionna, Jussara Cony, Lourdes Sprenger, Luiza
Neves, Mônica Leal, Séfora Mota, Sofia Cavedon, que é membro do nosso Partido e
que, hoje, está fora da Cidade, fazendo uma representação da Câmara Municipal.
Quero cumprimentar todas aqui da Mesa, cumprimentando a Bruna Rodrigues, que já
saiu, mas que representa a União das Associações de Moradores de Porto Alegre,
e a Silvana, que representa o Conselho; quero cumprimentar todas as convidadas
e a representação de todas as meninas que estão aqui conosco hoje também nas
galerias. E quero também dizer que esta luta da igualdade, esta luta para que
as mulheres sejam e tenham os espaços de igualdade, ainda está longe de acabar.
Espero que esteja próximo, mas, pelo processo histórico, sabemos que ainda
temos uma caminhada pela frente.
Sabemos que, na Idade
Média, as mulheres que ousavam disputar espaços eram queimadas em fogueira.
Sabemos que as mulheres, Ver. Pujol, neste País, tiveram uma dificuldade imensa
para poder votar pela primeira vez. E lá em 24 de fevereiro de 1932, no Governo
Vargas, depois de uma luta muito grande, adquiriram o direito ao voto
universal. E uma de vocês falou aqui que os partidos políticos têm que abrir os
seus espaços, têm que propiciar a igualdade.
E como Líder da
Bancada do PT, eu venho aqui dizer que o nosso Partido vem lutando para isso. E
tivemos, aqui nesta Casa, com muita satisfação, três mulheres que foram
Presidentes da Casa: a Margarete Moraes, a Maria Celeste e a Sofia Cavedon,
sendo que a Margarete Moraes também teve o prazer de ser a primeira mulher
Prefeita, em substituição, nesse processo. Tenho aqui muito orgulho de dizer
também que, dentro do Município, quando governamos aqui, criamos a primeira
estrutura, que hoje é mais sólida, de ter um espaço para que as mulheres
pudessem se consolidar.
No Governo do Estado,
o Governo Tarso Genro, criamos a Secretaria Estadual das Mulheres, que a
companheira Márcia Santana dirige.
No Governo Lula
também criamos a Secretaria de Políticas para Mulheres, e foi a nossa
companheira gaúcha Emília Fernandes a primeira coordenadora. Não basta dizer
que o PT tem orgulho, neste momento, de ter a primeira mulher Presidenta, numa
construção com um conjunto de companheiros e companheiras e Partidos aliados
que vêm montando um processo de transformação nacional. Para nós, é um orgulho
muito grande, e, agora, no último congresso do PT, saímos com a decisão de que
50% dos candidatos têm que ser homens e 50% têm que ser mulheres, bem como a
composição de toda a estrutura partidária: 50% homens, 50% mulheres. Isso
basta? Não, não basta! Nós precisamos fazer com que os direitos sejam,
realmente, absorvidos e adquiridos em grau de igualdade. Sr. Presidente,
concluo a minha fala, em nome do Partido dos Trabalhadores, dizendo que o dia 8
de março é uma referência mundial, mas entendemos que essa luta não é só das
mulheres, mas de homens e mulheres que querem uma sociedade igualitária.
Muita energia a todos,
porque precisamos conjuntamente dela.
Um grande abraço, e
que os 365 dias do ano sejam o dia 8 de março. Obrigado.
(Não revisado pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (Dr. Thiago): Quero fazer,
de público, a minha saudação à sensibilidade do Ver. Paulinho Motorista. Quero
agradecer, de público, e ele sabe porquê. Quero dar os parabéns à sensibilidade
do Ver. Paulinho Motorista, e o faço na figura do Ver. Airto Ferronato.
O Ver. Airto
Ferronato está com a palavra no período temático de Comunicações.
O SR. AIRTO FERRONATO: Eu transmitirei a
ele a mensagem. Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras, mulheres que
nos dão a honra aqui presentes, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras,
senhoras e senhores aqui presentes, hoje, 8 de março, esta bela homenagem que
se presta aqui na Câmara, eu não diria às mulheres, mas à sociedade toda, neste
contexto todo, e uma homenagem muito bem desenvolvida pelas nossas queridas
Vereadoras aqui da Câmara, oito mulheres. Ouvindo aquilo que se falou até
agora, estava eu pensando o que dizer. Meditei e cheguei a seguinte posição:
minha mãe, professora; meu pai, colono. Há 45 anos ou mais, no interior do
Município de Arvorezinha, num determinado momento, minha mãe foi buscar,
procurar uma babá para cuidar dos meus irmãos. Chegou lá em casa um senhor e
disse para minha mãe: “Eu conheço bem o seu Ferronato, é um homem belíssimo”, e
teceu elogios ao meu pai; para minha mãe ele disse, conversando com ela: “A
senhora, vejo pela primeira vez hoje, até que me parece mais ou menos”. Analisando,
há 45 anos, como se pensava a respeito das coisas, que grande elogio foi
aquele! Ele disse: “Minha filha vai ficar”. Isso me traz dois significados. O
primeiro deles: o pai era quem definia se a filha ou esposa trabalharia ou não.
E o pai trazia na sua visão de que era o homem, naquele tempo, e como era
tratada a mulher. Passaram-se 40 anos. Aqui em Porto Alegre tenho um amigo que
tinha um filho – quero registrar que tenho três filhas: uma de 27, uma de 17 e
uma de 7 anos, e um filho, que tem 20; e um amigo meu tinha um filho homem,
menino, e aí ele me disse: “Eu ensino o meu filho a ser machão; precisa
atacar”. Assim, ele ia me contando aquelas histórias, e eu analisando a posição
daquele pai de menino; logo mais, quando nasceu a filha, ele mudou 100% a forma
como ensinava o filho. E ainda hoje acontece isso. Enquanto um pai agricultor,
quase analfabeto, dizia que minha mãe era o máximo, dizendo que era mais ou
menos, há 40 anos, hoje, em Porto Alegre, gente com formação até elevada,
ensina o seu filho que “o meu filho é o machão”. Eu acredito que é exatamente
essa forma atrasada de criar menino uma das causas que temos de formação de
homens, entre aspas, e pejorativamente, de machões. É preciso mudar esse estilo
de criação de filhos e filhas para que tenhamos uma sociedade mais igualitária.
Parabéns, e um abraço a todas vocês. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Dr. Thiago): Convido todos para, após o término da Sessão, um Sarau Poético e Cultural, no Teatro
Glênio Peres. É uma produção cultural do GT Cultura de Porto Alegre e Grupo
Viva Palavra.
O Ver.
Reginaldo Pujol está com a palavra no período temático de Comunicações.
O SR.
REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores,
distinta Mesa que conduz os trabalhos nesta Sessão Solene que, por deliberação
do Plenário desta Casa, se realiza neste dia, e que haverá de ser realizada nos
próximos anos sem a necessidade de deliberação do Plenário da Casa, na medida
em que lei surgirá no curso deste semestre oficializando definitivamente este
período próximo a 8 de março como destinado a registrar as homenagens da Casa ao Dia e à Semana da Mulher. Quero dizer, com muita satisfação,
especialmente depois de ter ouvido mais de duas dezenas de pronunciamentos, que
acho que nada ou muito pouco tem de ser acrescido aos pronunciamentos que aqui
já ocorreram.
Eu registro, com
muita satisfação, que, sendo Vereador pela primeira vez, Ver.ª Mônica, em 1972,
naquela ocasião, para uma Câmara de 21 Vereadores, apenas uma mulher foi
eleita: a ex-vereadora e ex-deputada Dercy Furtado. De lá para cá, as coisas
caminharam; hoje, existem oito Vereadoras com assento nesta Casa na data de sua
homenagem. Isso é um avanço considerável, e não se diga que é em função da exigência
dos 30% de vagas obrigatórias para as mulheres nas chapas, porque essas, na
grande maioria dos casos, todos nós sabemos, são preenchidas quase que
ficticiamente, porque são pessoas que colaboram com seu nome apenas para
cumprir a legislação. O que leva a aumentar essa proporção não é a
obrigatoriedade legal, mas, sim, o engajamento positivo das mulheres na luta
política e com suas respectivas posições, com suas ideias, com seus Partidos e
com suas vocações.
Eu, com alegria,
participei dessa última eleição numa chapa em que a mais votada foi a Ver. Any
Ortiz, que estava conosco aqui há até bem pouco tempo e até presidiu os
trabalhos. A Any não foi Vereadora porque a Lei lhe garantia lugar na chapa,
mas sim porque trabalhou, se impôs e tinha motivações suficientes para
justificar o voto popular, Ver.ª Lourdes. V. Exa, inclusive, foi uma surpresa.
As pessoas não acreditavam que a senhora seria eleita, e o foi, pelo seu
trabalho reconhecido pela população.
Neste dia em que a
gente homenageia as mulheres, que homenageamos a Any, a Séfora, a Mônica, a
Fernanda, a Luiza, a Sofia, a Lourdes e a Jussara, cada um de nós deve
homenagear as mulheres que entende que deve homenagear. Eu, por exemplo, não
posso deixar de homenagear as mulheres que ajudam a cumprir o meu mandato: a
Olga, que coordena a minha Bancada, as universitárias que trabalham comigo, Ana
Caroline, Claudete, Juliana, as Dras. Magda e Salete, a Prof.ª Bianca e as
funcionárias da Casa, como a Lisie, que me assessora lá na Comissão de
Constituição e Justiça. Todas as mulheres cumprindo, cada uma a seu modo, a sua
vocação e o seu destino. Nem todas as mulheres serão Governadoras do Estado,
nem todas serão Prefeitas da Cidade ou Presidente deste País, mas todas
cumprirão o seu dever.
A minha mãe que, a meu juízo, foi a maior mulher do
mundo, nunca foi eleita para nada, mas trabalhou muito para me eleger, e eu
sinto saudade dela. Então, minhas homenagens às minhas mulheres: a minha mãe, a
minha mulher, mãe da minha filha Cristina, avó da minha neta que vai surgir; a
elas um beijo profundo lá no fundo do coração, dizendo o seguinte: que bom que
o mundo tem homens e mulheres para conviver e para festejar. Um abraço!
(Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Dr. Thiago): O Ver. Professor Garcia está com a palavra no
período temático de Comunicações.
O SR.
PROFESSOR GARCIA: Prezado Dr. Thiago, Presidente da Casa; quero
saudar a Presidente do Conselho Municipal, Silvana Conti, e, saudando a
Silvana, saúdo todas as mulheres. Quero fazer uma saudação especial às nossas
colegas Vereadoras – a Ver.ª Lourdes, minha companheira de Partido; a Ver.ª
Mônica, a Ver.ª Maria Luiza, a Ver.ª Séfora, a Ver.ª Fernanda Melchionna, a
Ver.ª Sofia, a Ver.ª Any e a nossa Vereadora decana, que, para nossa alegria, está
de volta a esta Casa, Ver.ª Jussara. A Jussara sabe o carinho, o respeito e a
amizade que tenho por ela.
Eu vou dividir a minha fala em dois momentos.
Primeiro, eu vou contextualizar algumas coisas em relação à mulher; depois eu
vou falar um pouco sobre um Projeto meu, que está tramitando desde o ano
passado, que é o Disque Violência contra a Mulher.
A violência de gênero é um fenômeno complexo
provocado por fatores culturais, sociais, históricos, políticos e econômicos.
Para o seu enfrentamento torna-se imprescindível a criação e a articulação de
um conjunto de estratégias políticas e a intervenção social tanto local como
global. Atualmente, em Porto Alegre, tramitam aproximadamente 20 mil processos
envolvendo violência doméstica contra a mulher, no Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher. Diariamente, chegam entre 40 e 50 pedidos
de medidas protetivas, cujo atendimento tem sido estritamente judicial, mesmo
que a Lei Maria da Penha estabeleça o atendimento multidisciplinar e interdisciplinar
por meio da rede de serviços. De acordo com dados divulgados pelo Banco
Mundial, uma mulher que sofre violência, a cada cinco anos, ela perde um ano de
vida saudável, isso em expectativa de vida. Além disso, a violência de gênero é
causa significativa de incapacidade e de óbito de mulheres na faixa etária
entre 15 e 44 anos. Mata mais do que o câncer, malária, acidente de trânsito ou
mesmo uma guerra. De acordo com o Banco Mundial, estudos realizados têm
mostrado que a violência contra a mulher ocorre em 2/3 dos casamentos; que
entre 15% e 20% das mulheres são agredidas pelo próprio companheiro durante a
gestação, e também que 50% dos assassinatos de mulheres são cometidos por seus
cônjuges.
Então, por si só, isso dá para fazer uma reflexão
da evolução que ainda temos que estabelecer em relação às mulheres. Segundo a
Fundação Perseu Abramo, a cada dois minutos, cinco mulheres são vítimas de
violência no nosso País.
Quero falar um pouco, então, do meu Projeto, que
está tramitando desde o ano passado e que nós vamos votar este ano. É o Disque
Violência contra a Mulher. Esse Projeto, em muitos casos, poderá ser o primeiro
passo em busca do auxílio para o rompimento do ciclo de violência,
proporcionando à vítima a obtenção de informações importantes, de encaminhamentos
e indicação do lugar para o qual deve se dirigir a fim de buscar uma ajuda
emergencial, lembrando sempre que a maioria dessas mulheres não dispõe dos
recursos financeiros necessários para locomoção. A criação desse Disque
Violência é necessária porque...
(Som cortado automaticamente por limitação de
tempo)
(Presidente concede tempo para o término do
pronunciamento.)
O SR.
PROFESSOR GARCIA: ...para que possam ser obtidos indicativos sobre a
violência de gênero, sua forma e sua intensidade.
Quero também agradecer porque esse Projeto foi
montado com a colaboração do PMDB Mulher, da Eunice Flores e da Angela, que nos
apresentaram, e fizemos uma discussão sobre a questão da violência de gênero.
Para finalizar, a Rosa, minha esposa, que está aqui,
que preside a ONG Movimento de Mulheres Martini Carneiro, escreveu algo
importante: “Mulher/Mulheres caminhando de mãos dadas/indo à frente sem
parar/Essa luta ninguém para/Elas não querem guerrear/ sim, querem é modificar
tudo o que está aí/São mulheres livres...
(Som cortado automaticamente por limitação de
tempo.)
(Presidente concede tempo para o término do
pronunciamento.)
O SR.
PROFESSOR GARCIA: ...à procura da equidade, do amor e da paz”. Rosa,
muito obrigado; te amo! Quero dizer que, cada dia mais, esse contexto de gênero
é mais do que importante; na realidade, é a sobrevivência e a interação. Não
existe maior ou menor, existem seres humanos que se amam, que se complementam e
que têm que viver juntos. Parabéns a todas a mulheres! (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE (Dr. Thiago): Obrigado, Professor Garcia. O Ver. João Derly está
com a palavra no período temático de Comunicações. (Pausa.) Desiste. Farei,
então, as considerações finais.
Eu gostaria de mostrar um adesivo, Ver. João, muito
bem colocado. (Mostra o adesivo.) “Homem de verdade assume seus filhos; homem
de verdade não bate em mulher”. Parabéns, Ver. João Derly! Quero ainda mostrar
um folheto da Liga Brasileira de Lésbicas, em que consta o seguinte: “Basta de
machismo, racismo e lesbofobia”. (Mostra o folheto.)
Quero, efetivamente, poder dar os parabéns a todas
as mulheres, principalmente a vocês que tiveram a possibilidade de ficar aqui
até o final. Quero dizer que eu tenho trabalhado há 16 anos com a saúde da mulher,
tanto lá no Hospital Presidente Vargas, atuando na obstetrícia, no início da
vida, como me dedicando às situações vinculadas ao câncer de mama; o objetivo é
sempre cuidar e proteger, Ver.ª Lourdes, a mulher. Eu acho que isso eu herdei
muito da relação que eu tive com as mulheres da minha vida, que eu citei aqui
em meu discurso introdutório de posse: minha avó, minha mãe e minha filha. Eu
acho que essas mulheres – além, é claro, não posso esquecer, da minha esposa –
são mulheres que iluminam a minha vida e que efetivamente me dão, cada vez
mais, energia para vencermos juntos os obstáculos.
Eu quero finalizar este momento da Sessão de hoje,
dizendo um pequeno versinho que eu aprendi com a minha avó e ontem eu o recitei
na relação com a Sociedade Ítalo-Brasileira, que foi um evento que nos trouxe o
Ver. Elizandro Sabino e outros Vereadores participaram, que era assim: “Nona Maria che volonta di rivare/Di ti
abraciare piangendo di felicitá/Il tuo bambino stá di ritorno per
stare/Portando la mala caricata di rimpianto. Nona Maria, que vontade de
chegar/De te abraçar, chorando de felicidade/O teu menino está de volta pra
ficar/Trazendo a mala carregada de saudade”. (Palmas.) E era assim que a minha
avó sempre cantava para mim. Muito obrigado a vocês.
Como visualmente não há quórum, dou por encerrada
esta Sessão Temática da Mulher e já convido todos a comparecer ao Teatro Glênio
Peres para o seguimento das nossas homenagens da Semana Internacional da
Mulher. Muito obrigado.
(Encerra-se a Sessão às 17h47min.)
* * * * *